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Opinião

Como ossada de preguiça gigante no Brasil pode mudar história das Américas

Uma análise publicada no periódico Proceedings of the Royal Society B. mostra a descoberta de pingentes feitos de ossos de preguiças gigantes extintas e revela fortes indícios de que os primeiros seres humanos chegaram ao que hoje é o Brasil há pelo menos 27 mil anos.

A hipótese mais aceita atualmente pela comunidade científica, chamada de "Clóvis First" afirma que os seres humanos chegaram ao continente americano pela América do Norte, pelo Estreito de Bering, há cerca de 13 mil anos e depois desceram para a América do Sul.

Entretanto, o estudo realizado por pesquisadores de instituições do Brasil, da França, dos Estados Unidos e da Irlanda, mostra que isso pode ter acontecido bem antes. Miriam Pacheco, chefe do Laboratório de Paleobiologia e Astrobiologia da UFSCar, e Mario Dantas, chefe do Laboratório de Ecologia e Geociências da UFBA, participaram do programa Análise da Notícia para explicar como os fósseis encontrados no Abrigo de Santa Elina, sítio arqueológico de Jangada (MT) podem mudar os rumos da história.

Ossos de preguiças gigantes foram modificados por ação humana. O estudo encontrou evidências de interação entre o homem e a megafauna (termo para designar o conjunto de animais de grandes proporções que conviveram com o homem e foram extintas), pois os ossos encontrados foram modificados pelo homem e datam de 27 mil anos atrás. Os ossos foram utilizados para fazer adornos e, além disso, fósseis encontrados no Uruguai com uma datação de 31 mil anos já mostraram marcas de cortes feitos para tentar retirar a carne dos animais.

Teoria "Clóvis First" é contestada. Em 2016 foi publicado um artigo que demonstrava que, pelas condições ecológicas do Estreito de Bering, seria improvável que o ser humano tivesse atravessado o local. Não existem dados suficientes que comprovem a existência de animais, plantas ou algo que fizesse com que o ser humano pudesse subsistir durante a travessia.

Visão etnocêntrica dificulta revisão da história. A variedade genética dos povos originários nas Américas é bastante grande, e isso corrobora a tese de que chegaram de diversos lugares, e não apenas pelo Estreito de Bering. A teoria da migração do homem para a América tem que ser revista, mas existe uma resistência por conta de uma visão etnocêntrica da origem desse povoamento e, por isso, não será fácil a nova teoria ser aceita.

Modificações nos ossos da preguiça foram feitas em carcaças ainda frescas. Os pingentes que podem mudar a história foram encontrados em Santa Elina ainda na década de 1990, mas não havia ferramentas suficientes para revelar mais detalhes sobre os fósseis. Com a tecnologia atual e a utilização de técnicas adequadas com aceleradores de partículas, foi possível concluir que a carcaça das preguiças ainda estavam frescas quando foram feitas as modificações, ou seja, homens e a megafauna coexistiram no mesmo período na América do Sul. A ciência comprovou que as alterações não foram feitas em ossos fossilizados.

Reabertura das pesquisas em Santa Elina. As escavações em Santa Elina foram encerradas no início dos anos 2000, mas, diante das novas descobertas, há motivos muito fortes para ressuscitar as escavações e procurar novas evidências. Todo o material possível já foi retirado do local, mas com as novas tecnologias é possível fazer novas coletas e análises químicas naquilo que já foi escavado para tirar mais amostragens e aprofundar todo o trabalho que já foi feito.

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças, quartas e quintas, às 19h.

Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja a íntegra do programa:

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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