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Opinião

Situação da segurança pública no Brasil está pior e vai piorar ainda mais

O colunista do UOL José Roberto de Toledo afirmou durante o programa Análise da Notícia que a segurança pública no Brasil está no caminho errado, rumo ao precipício. A conclusão tem como base os dados do Censo do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, divulgado nesta terça (27). O levantamento compila informações das mais de mil polícias brasileiras e instituições da área de segurança, à exceção da Polícia Rodoviária Federal (PRF), que não forneceu informações para o documento.

A minha conclusão pessoal é que a situação da segurança no Brasil está pior e vai piorar, porque estamos no caminho errado. É inacreditável. Tem menos polícias que investigam, investigando. A força da Polícia Civil diminuiu ao longo dos anos. A força da Polícia Militar, que faz o policiamento ostensivo - são 405 mil policiais militares -, também está diminuindo. E um em cada três não trabalha na rua, trabalha dentro do quartel ou sentado numa cadeira fazendo serviços burocráticos. Mas não é só isso. Quem está crescendo são as guardas municipais. Por quê? Porque tem menos policiais militares fazendo policiamento ostensivo, logo, os prefeitos se sentem obrigados a reforçar a segurança nos seus municípios contratando a sua própria guarda. José Roberto de Toledo

Toledo chama atenção para outro dado: a proporção de policiais militares por habitante não tem relação com a diminuição da violência.

É chocante. A maior taxa de mortes violentas no Brasil está no Amapá, 51 por 100 mil habitantes. É altíssima, é São Paulo, Jardim Ângela (bairro da Zona Sul paulistana) no fim dos anos 90, quando a epidemia de violência estava no auge. Qual é a proporção de policiais militares por habitante no Amapá? 4,2. Em Santa Catarina, é 1,3. O Amapá tem quase quatro vezes mais PMs do que Santa Catarina, mas a taxa de homicídios e mortes violentas em Santa Catarina é um quinto da taxa do Amapá: é 9,1 por 100 mil habitantes contra 51 por 100 mil. Tem algo muito errado. Tem mais policial e mais violência, como pode isso? José Roberto de Toledo

Ele ressalta que a conta também não fecha financeiramente, como revelam os dados relativos aos salários dos agentes da segurança pública.

Proporcionalmente ao resto do serviço público, os policiais não ganham mal, ao contrário do que o lobby deles no Congresso e nas Assembleias diz. Um policial ganha mais do que a média dos servidores. Os policiais civis, militares, penais (quem cuida dos presídios), bombeiros e os peritos ganham, em média, R$ 9 mil por mês. Os demais servidores estaduais ganham, em média, R$ 6 mil. É 50% mais. É um pouco menos do que ganha um policial na Alemanha, considerada a paridade do poder de compra lógico, ou seja, quanto cada dinheiro consegue comprar em cada país. José Roberto de Toledo

O colunista destacou ainda a desigualdade de gênero dentro da polícia. A proporção de mulheres nas corporações varia de 6% (no Rio Grande o Norte e no Ceará) a 28% (no Amapá). Em média, o Brasil conta com 27% de mulheres na Polícia Civil e 13% na Militar. Na Civil, enquanto 45% dos escrivães são mulheres, só 25% são delegadas, cargo com os salários mais altos.

Tem uma desigualdade de gênero e salarial dentro da Polícia Civil. Na PM, 5% das mulheres são coronéis. Dos aspirantes, aqueles estão estudando para se tornar oficiais são 17%. Está ruim e vai demorar muito para melhorar essa desigualdade, porque se só 17% de quem é aspirante a oficial é mulher, vai demorar um século para ter algum tipo de paridade. A minha conclusão é essa: a segurança está pior, vai piorar e estamos no caminho do precipício. José Roberto de Toledo

O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

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Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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