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Opinião

Análise: Abrir precedente de adiar eleição no RS é perigo para democracia

No Análise da Notícia desta terça-feira (21), o cientista político Eduardo Grin afirmou que, diante das enchentes que assolam há semanas o Rio Grande do Sul, abrir o precedente de adiar as eleições municipais seria um risco ao processo democrático e um prêmio aos maus governantes.

Na nossa democracia, para nós adiarmos as eleições num contexto como esse em que nós ainda temos democracia em jogo, em risco no Brasil, me parece um precedente muito perigoso porque logo aí na frente nós podemos ter quaisquer outras razões que possam ser justificadas e isso pode ser muito prejudicial para a nossa democracia.

Não queremos voltar ao que foi a ditadura militar, a postergação dos mandatos de prefeitas e prefeitas em 76, o problema que houve com a postergação para mais dois anos de mandatos de prefeitas e prefeitas em 1982, acho que a democracia veio para ficar depois de 88 com um valor importante e é na democracia que se resolve as adversidades.

Entendo que adiar as eleições significa premiar os maus prefeitos e as más prefeitas, que tinham chance, sim, de terem atuado de maneira preventiva, sobretudo considerando que há um histórico do estado de problemas climáticos, como enchentes e chuvas, e mais recentemente aquelas enchentes e chuvas que aconteceram em setembro e novembro do ano passado. Eduardo Grin, cientista político

O cientista político citou dados de 2020 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que apontam a falta de investimento do poder público nos municípios gaúchos em relação a medidas preventivas. De acordo com o estudo, a porcentagem de cidades gaúchas que possuem:

Legislação sobre a adaptação e mitigação da mudança climática é de 4%;

Planos de implantação de obras e serviços pela redução de riscos a desastres, 6.2%;

Plano municipal de redução de riscos, 13.4%;

Sistemas de alerta antecipada a desastres, 9%.

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Núcleos de defesa civil, 5.4%.

O total de cidades atingidas por enchentes ou inundações graduais nos últimos quatro anos é de cerca de 40%.

Claro que um desastre dessas proporções não teria sido respondido por qualquer município que tivesse 100% de todas essas medidas. Mas o impacto certamente teria sido mitigado. Então já era, desculpa a expressão, uma tragédia anunciada. Não entendo que as eleições devam ser adiadas com base nessa justificativa. Eduardo Grin, cientista político

Deysi Cioccari: Eleitor não terá condição de participar do debate eleitoral no RS

Também no programa de hoje, a cientista política Deysi Cioccari argumentou a favor do adiamento das eleições municipais em todo o Rio Grande do Sul. Para a especialista, os eleitores não terão condições emocionais de participar do debate eleitoral porque ainda estarão lidando com os estragos das enchentes que assolaram o Estado nas últimas semanas. O abalo afetará a qualidade do voto, diz Deysi.

Acredito que não é o momento, pelo psicológico das pessoas, acredito que o debate não vai ser positivo. Acredito também na qualidade do voto, que ela vai se perder no meio disso tudo. As pessoas estão querendo reconstruir suas casas, ainda estão de luto pelas pessoas que perderam. E assim, de novo, mais de 90% das cidades foram atingidas, não tem clima pra isso assim.

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Imagina a cabeça de uma pessoa pra votar, eu como cientista política, sempre defendi a qualidade do voto. Se a gente quer um debate eleitoral de qualidade, a gente tem que envolver a população. Agora me digam que cabeça que as pessoas vão ter pra participar de um debate eleitoral. Deysi Cioccari, cientista política

A cientista política ressaltou ainda que tem receio que os debates eleitorais foquem apenas nas questões ambientais e deixem as demais áreas de lado.

O meu receio é que aconteça durante o período eleitoral uma caça às bruxas em relação à pauta ambiental, como já está acontecendo o uso político disso. Se a gente chegar no período eleitoral e colocar isso em debate, o meu receio é que outras pautas importantes, como a saúde, como a educação, elas fiquem de lado.

Defendo o momento eleitoral como um debate político, mas acredito realmente que a qualidade do voto —esse é o meu ponto— a qualidade do voto agora, nesse momento, não vai ser positiva. Eu acho que as eleições vão acabar acontecendo por todo o entorno. Eu acredito que elas vão acabar acontecendo. Mas eu realmente acredito que não é o momento pelo psicológico das pessoas. Eu acredito que o debate ali não vai ser positivo, não vai. E eu acredito também na qualidade do voto, que ela vai se perder no meio disso tudo. Deysi Cioccari, cientista política

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O Análise da Notícia vai ao ar às terças e quartas, às 13h e às 14h30.

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Onde assistir: Ao vivo na home UOL, UOL no YouTube e Facebook do UOL.

Veja abaixo o programa na íntegra:

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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