Governo gasta como nunca com Congresso mas perde como sempre
O governo federal empenhou quase R$ 20 bilhões de emendas parlamentares até 28 de maio. É quase quatro vezes mais do que havia empenhado (R$ 5,1 bilhão) até esta mesma data em 2023. Mesmo assim, coleciona derrotas em votações no Congresso e traições em série entre seus aliados. Em 2023, o mesmo governo aprovou duas reformas constitucionais na Câmara e no Senado.
O que mudou de 2023 para 2024?
Primeiro, os atenuantes de 2024:
Há eleições este ano e as transferências voluntárias da União a estados e municípios só podem ser feitas até três meses antes do primeiro turno, logo, os parlamentares têm mais pressa em 2024 do que tinham em 2023 para liberar emendas.
O valor total de emendas ao orçamento aumentou este ano em comparação ao ano passado. Os R$ 20 bi já liberados são 40% do total do ano, ou seja, a liberação está proporcional ao calendário.
Agora, as diferenças de 2024:
A única "vitória" do governo nas votações de terça-feira no Congresso foi de Pirro. O Congresso não derrubou o veto de Lula ao "cronograma" de liberação porque, na prática, o fluxo de liberação de emendas já está no ritmo que os parlamentares defendem, proporcional ao calendário: aos 40% do ano o governo empenhou 40% das emendas...
Arthur Lira et caterva demonstraram em seguidas votações que o governo mal tem 140 votos na Câmara, insuficientes para impedir a abertura de um processo de impeachment;
Embora impedir Lula não pareça ser esse o plano A do Arenão, as humilhações em série pretendem demonstrar quem manda e enviar um recado: não se meta no processo de sucessão do presidente da Câmara;
A sucessão de Lula não só começou como está a todo vapor, principalmente do lado da oposição, que faz de tudo para desgatar o atual presidente e viabilizar um candidato próprio;
O escolhido para o papel é o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, que já foi picado pela mosca da Faria Lima, de tanto ir a encontros com os frequentadores da região que concentra o poder do capital em São Paulo;
O processo de desgaste de Lula passa por solapar um dos seus principais ativos: a fama de bom articulador político e negociador hábil. As derrotas minam essa ideia e criam uma sensação de que isso é coisa do passado, de "já era", de que ele está "enferrujado".
Se o governo não mudar, se a coordenação interna não melhorar, se Lula não definir melhor suas prioridades, o plano da oposição de substituí-lo por Tarcísio em 2026 seguirá mais forte do que nunca.
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