Chegou a hora da política do nós contra ele, o vírus
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Albert Eisntein soou premonitório quando disse, a propósito do poder de destruição das armas atômicas, o seguinte: "Não sei com que armas a 3ª Guerra Mundial será travada, mas a 4ª será travada com paus e pedras".
Chegou a terceira grande guerra. O inimigo é biológico, microscópico. Artefatos nucleares são inúteis contra ele. Indefeso, o mundo trancou-se em casa. Conta os cadáveres. E estima os prejuízos.
A improvisação é a marca do conflito. Por mal dos pecados, o coronavírus prospera no improviso. O estrago na economia mundial avança na proporção direta da demora em encontrar munição apropriada.
Pior do que duas crises, só três crises. No Brasil, Bolsonaro conseguiu adicionar às encrencas sanitária e econômica uma terceira confusão: a crise política. O capitão tornou-se um problema de saúde pública.
A pandemia potencializa as piores debilidades do inquilino do Planalto. À frente de um governo da guerra, pela guerra e para a guerra, Bolsonaro revela-se capaz de tudo, menos de confrontar o vírus.
Bolsonaro nunca aproveita as oportunidades que a conjuntura lhe oferece para melhorar. Dessa vez, o presidente é a oportunidade que o coronavírus aproveita. O brasileiro não merecia a reincidência da mediocridade no Planalto.
A pandemia entra em sua fase mais crítica no país. O Ministério da Saúde prevê que a curva do contágio subirá exponencialmente em abril. Para complicar, junto com o coronavírus virão outros dois surtos: o da influenza e o da dengue.
Seria um ótimo momento para Bolsonaro exercitar os dotes de um grande líder, se ele os tivesse. Como não possui esse tipo de talento, o capitão dedica-se a brigar com os governadores e os prefeitos que deveria liderar.
Bolsonaro complica-se em duas frentes. Numa, insinua que o crescimento econômico pode ser mais importante do que salvar vidas. Até porque o brasileiro já nasceu imunizado.
"Não pega nada... O cara sai pulando em esgoto, mergulha e não acontece nada", declarou Bolsonaro, convertendo-se no primeiro presidente da história a celebrar o fato de que, no Brasil, pobre não dispõe de saneamento básico.
Noutra frente, o presidente insulta a equipe da pasta da Saúde ao descrer das estatísticas sobre mortos e das previsões técnicas sobre o potencial de letalidade do coronavírus. Bolsonaro opera com teorias científicas próprias, alternativas.
Para o capitão, o coronavírus já está derrotado. Os pobres imunizam-se com esgoto. Os mais abastados serão curados da "gripezinha" com um remédio milagroso utilizado nos tratamentos contra a malária e o lúpus.
Isolamento social? Só para os idosos, declara, forçando o ministro Henrique Mandetta, da Saúde, a fazer malabarismo verbal para defender a permanência das pessoas em casa. Sob pena de levar o sistema de saúde ao colapso.
A falta de coordenação central submete a sociedade brasileira a duas anomalias. A primeira é a discrepância entre as providências adotadas por Estados e municípios. Alguns aderem ao confinamento e fechamento de parte do comércio. Outros, não.
Em Brasília, Bolsonaro fala em levantar o isolamento. O doutor Mandetta prega a manutenção das pessoas em casa, com liberação gradual, condicionada a pareceres científicos.
Mandetta busca diálogo com governadores. Bolsonaro acusa-os de exterminar empregos, politizando o vírus. Para o capitão, os inimigos do povo desejam paralisar a economia para impedir a reeleição de um presidente extraordinário.
Os paradoxos de Bolsonaro atrasam a implementação de medidas econômicas para socorrer pessoas e empresas vulneráveis. É como se o Brasil tivesse no momento não um presidente, mas um antipresidente.
O brasileiro merecia melhor sorte. Nos governos do PT, vigorou a estratégia do "nós contra eles". Bolsonaro aplica a tática do "eles contra nós". Desperdiça a oportunidade de tentar algo diferente: a política do nós contra ele, o vírus.
Ou a sociedade e as instituições funcionam à margem de Bolsonaro ou logo não restarão senão paus e pedras.
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