Bolsonaro torna rupturas definitivas em reconciliações vexatórias
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Ulysses Guimarães dizia que, em política, o sujeito não pode estar tão próximo que amanhã não possa estar distante, nem tão distante que amanhã não possa se aproximar." Jair Bolsonaro exagera. Transforma rompimentos definitivos em reconciliações constrangedoras.
Exigiu que a caixa registradora do PSL fosse submetida a um choque de transparência. Fez isso sem levantar o tapete que esconde as rachadinhas da família Bolsonaro.
Em meio a uma disputa que ganhou a aparência de gincana de lama, o presidente saiu do partido batendo a porta. Agora, ensaia um retorno sem que nenhum dos dois lados —o partido e a primeira-família— tenha demonstrado disposição para a faxina.
Eleito com a promessa de expulsar os vendilhões do templo de uma hipotética nova política, o Messias do Planalto tratou o centrão a pontapés no início do seu governo. De repente, o presidente virou um compositor. Compõe com todo mundo, inclusive com o centrão, um aglomerado partidário majoritariamente integrado por parlamentares que trazem o código de barras na lapela.
Não há interesse público sobre a mesa, apenas objetivos subalternos. Bolsonaro quer um escudo de proteção. O centrão deseja ocupar a "reserva da gandaia", um espaço que todos os governos do Brasil pós-redemocratização colocam a serviço do clientelismo e do fisiologismo.
A rendição do governo Bolsonaro à politicagem foi acentuada depois da prisão do velho amigo Fabrício Queiroz, há dois meses. O presidente fechou o cercadinho do Alvorada e passou a levar a língua na coleira. Isso deu à Presidência de Bolsonaro um inesperado conteúdo de moderação.
A calmaria, associada aos efeitos do vale corona de R$ 600, deu ao presidente um inusitado poder de refração. Bolsonaro virou um presidente-teflon. Nem mesmo os equívocos mais bizarros grudam na sua imagem.
Enquanto a aprovação popular de Bolsonaro sobe, a avaliação do Congresso, que havia melhorado na fase em que o Legislativo estava às turras com o presidente, decresce. Ironicamente foram os congressistas que colocaram fermento no vale corona.
O governo queria pagar aos vulneráveis da pandemia R$ 200 por mês. O Congresso elevou para R$ 500. Quando o plenário da Câmara se preparava para votar, Bolsonaro telefonou para autorizar os R$ 600. Fica demonstrado que, em política, quem prepara a receita nem sempre saboreia o melhor bocado.
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