Desmame do vale corona virou desafio político
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O auxílio emergencial poderia ser rebatizado de vale reeleição. Essencial para os brasileiros pobres submetidos aos rigores da pandemia, o socorro de R$ 600 mensais acudiu também o presidente Bolsonaro, tonificando sua popularidade. Assim como os beneficiários, o presidente também ficou viciado no vale corona. Agora, forçado a ajustar a conveniência política à penúria dos cofres do Tesouro, Bolsonaro age mais ou menos como o alcoólatra que, conhecendo as próprias fraquezas, cerca a bebida com um sistema de câmeras e alarmes contra si mesmo.
Falando para a câmera de sua live semanal, Bolsonaro cuidou de preparar o eleitor de baixa renda para a fase de desmame. Reafirmou que o vale será renovado até dezembro, mas "com uma importância menor do que R$ 600." Paulo Guedes gostaria de pagar R$ 200. Mas o presidente insiste em R$ 300. "Tem cara já reclamando", disse Bolsonaro. "Isso não é aposentadoria, é uma ajuda emergencial", ele esclareceu.
A transição entre o auxílio emergencial e o Renda Brasil, versão anabolizada do Bolsa Família, tornou-se uma operação politicamente sensível para Bolsonaro. O Bolsa Família pagava benefício médio de R$ 190. O vale de R$ 600 representou um salto expressivo. Agora, tenta-se transformar a queda para R$ 300 num pouso suave o bastante para não comprometer a simpatia que o beneficiário desenvolveu pelo presidente da República.
A estratégia do presidente e do seu governo passa por ajustes. Antes, quase tudo estava condicionado ao avanço das reformas econômicas de Paulo Guedes. Agora, a prioridade de Bolsonaro é ajustar a agenda do ministro da Economia à sua demanda eleitoral por programas sociais. É preciso verificar como a responsabilidade fiscal vai sair desse debate.
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