Capitão chamaria de suborno oferta de Trump?
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A diplomacia é uma atividade paradoxal. O que a torna singular é a pluralidade de interlocutores. Nesse ramo, os princípios são sempre menos perigosos do que a improvisação. Mas Jair Bolsonaro subverteu até o mais trivial dos princípios. Foi para as cucuias o princípio que coloca acima de tudo o interesse nacional. Ao tomar partido na disputa presidencial dos Estados Unidos, o presidente brasileiro conseguiu a proeza de se tornar inimigo de um eventual presidente que as urnas ainda nem deram à luz.
No festival de baixarias em que se transformou o primeiro debate da sucessão americana, Joe Biden, o rival de Donald Trump, citou o Brasil. Disse que "a Floresta Amazônica está sendo destruída". E mencionou a intenção de "fazer com que os países ao redor do mundo levantem US$ 20 bilhões (coisa de R$ 113 bilhões)" para ajudar o Brasil a preservar sua floresta, sob pena de sofrer sanções econômicas. A acusação de que o Brasil destrói sua floresta tornou-se algo trivial. O que há de novo na fala de Biden é a oferta monetária.
Bolsonaro poderia responder de muitas maneiras. Poderia dizer, por exemplo, que o Brasil não aceita ameaças de retaliação. Mas admite conversar sobre o envio de dinheiro para programas ambientais. Mas Bolsonaro escolheu reagir como Bolsonaro, chutando o balde. Disse que o Brasil não aceita "subornos"e que a soberania nacional é "inegociável". Cabe perguntar o seguinte: como reagiria Bolsonaro se Trump coordenasse com outros países a formação de um fundo de US$ 20 bilhões para financiar a preservação da Amazônia? Decerto enalteceria a parceria.
O presidente brasileiro não decide quem os americanos vão colocar na Casa Branca. Cabe a Bolsonaro apenas definir a melhor estratégia para se relacionar com o eleito, seja quem for. Bolsonaro prefere Trump a Biden. Mas ainda que o futuro presidente americano fosse o capeta, o governo brasileiro teria de dialogar com o inferno. Por uma razão singela: os Estados Unidos ainda são a maior economia do planeta, nosso segundo maior parceiro comercial. O Brasil precisa se relacionar soberanamente com os Estados Unidos, não subalternamente com Donald Trump.
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