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Josias de Souza

Bolsonaro trata vacina como uma sub-cloroquina

Colunista do UOL

19/10/2020 15h24

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Numa época em que o mundo aprende a conviver com a inteligência artificial, é duro ter de aturar a ignorância natural. A pretexto de se contrapor a declarações desnecessárias do governador paulista João Doria e de defender as liberdades do brasileiro, Jair Bolsonaro repetiu que a vacina contra o coronavírus "não será obrigatória". Ao assumir o papel de garoto-propaganda da liberdade individual de infectar, o presidente desconsidera o direito coletivo de não ser infectado.

A lei 13.979, sancionada pelo próprio Bolsonaro em 6 de fevereiro 2020 prevê no seu artigo 3º que, "para enfrentamento de emergência de saúde pública de importância internacional [...] as autoridades poderão adotar" medidas excepcionais. Entre elas, a "determinação de realização compulsória de vacinação." O estatuto da Criança e do Adolescente também prevê, em seu artigo 14, que "é obrigatória a vacinação das crianças".

A despeito das previsões legais, não é tradição no Brasil impor vacinas aos cidadãos. O estado costuma recorrer a campanhas de esclarecimento sobre a importância da vacinação. Quando esse hábito foi negligenciado, o país experimentou retrocessos. Por exemplo: a volta de uma doença como o sarampo.

Em meio a uma pandemia, é no mínimo inusitado que um presidente que se apresentou como "prova viva" e que cloroquina cura Covid-19 trate a vacina como uma espécie de sub-cloroquina. A Constituição consagra liberdades individuais. Mas também impõe limites e responsabilidades. Ao administrador público cabe esclarecer que certos limites não são arbitrários, mas necessários.

Bolsonaro prefere jogar na confusão. Durante uma pandemia, vende a liberdade de não usar máscara, a liberdade de não se vacinar, a liberdade de infectar. Diante de um caso assim, não resta ao brasileiro de bom senso senão exercer a liberdade de se imunizar contra a enfermidade do ignorante que ignora sua própria ignorância.