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Josias de Souza

Bolsonaro trama fazer de Maia xepa de sua feira

Reuters
Imagem: Reuters

Colunista do UOL

28/01/2021 04h49

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O DEM foi celebrado como um dos grandes vencedores das eleições municipais de 2020. Governava 268 cidades. Arrancou das urnas 464 prefeituras. Projetou-se um futuro radioso para Rodrigo Maia, principal tecelão da legenda. Seria reeleito presidente da Câmara, levaria a pauta do governo Bolsonaro na coleira por dois anos e iria à bolsa de apostas de 2022 no mínimo como alternativa de vice. Deu chabu. Maia arrisca-se a virar xepa na feira em que se converteu a sucessão na Câmara.

Predileto de Bolsonaro na corrida pelo comando da Câmara, o líder do centrão Arthur Lira abriu uma banca para disputar a clientela de deputados com o líder do MDB Baleia Rossi, o preferido de Maia. Lira exibe berinjelas extraídas da horta do Planalto. No crediário, entrega verbas orçamentárias e ministérios. À vista, vende cargos federais de escalões intermediários. O Planalto desaloja apaniguados de Baleia e Cia., para entregar cargos a partidários de Lira.

As berinjelas oferecidas por Arthur Lira têm enorme saída. Arrastaram para a banca governista dissidentes a granel, incluindo pelo menos 13 deputados do DEM. Se amealhar mais três adesões, Lira ganha o direito de inscrever o DEM no seu bloco. Para desassossego do governador paulista João Doria, estrela do ninho do PSDB, Lira pode levar de troco os votos de meia dúzia de deputados tucanos.

Rodrigo Maia acusou o golpe. Zonzo, fez dois telefonemas. Num, queixou-se em tom inamistoso ao general Luiz Eduardo Ramos, coordenador político de Bolsonaro. Soou como se tramasse um revide. Noutro telefonema, reproduziu para o presidente do seu partido, ACM Netto, um insulto que disse ter ouvido de um empresário: o DEM está na bica de ganhar as manchetes como "partido da boquinha".

Se virar xepa, Maia não poderá colocar a culpa em ninguém. Cavou seu próprio caminho para o inferno. Cavalgando o segundo mandato como presidente da Câmara, disse aos correligionários que não reivindicaria a re-reeleição. Colocou quatro aliados para brigar pelo posto: Além de Baleia (MDB-SP), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Marcelo Ramos (PL-AM) e Elmar Nascimento (DEM-BA). Embromou-os a mais não poder.

Impedido pelo Supremo Tribunal Federal de concorrer ao terceiro mandato, Rodrigo Maia optou por Baleia. Aborrecidos, Marcelo Ramos e Elmar Nascimento migraram para o bloco de Arthur Lira. Ramos concorre à primeira vice-presidência. Elmar lidera a dissidência do DEM.

Em política, quem não ambiciona o poder erra o alvo. Quem só ambiciona o poder, como fez Rodrigo Maia, vira o alvo. A troca de comando na Câmara ocorrerá na segunda-feira. O tecelão do DEM tem três dias para levar à feira mercadoria mais vistosa do que as berinjelas de Bolsonaro. O capitão consolida-se como mais um presidente que se une ao centrão não pelos laços do matrimônio, mas do patrimônio.

Ironicamente, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, outro cacique do DEM, está animado com a perspectiva de eleger o seu sucessor. Entre os senadores, desfila como favorito Rodrigo Pacheco (DEM-MG). Deve-se o favoritismo ao apoio de Bolsonaro. As arcas governamentais continuam exercendo enorme poder de sedução no Legislativo.