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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Araújo transforma em pesadelo pessoal o sonho de fazer do Brasil um pária

Ueslei Marcelino/Reuters
Imagem: Ueslei Marcelino/Reuters

Colunista do UOL

26/03/2021 04h19

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O antichanceler Ernesto Araújo aperfeiçoou o conceito anedótico de Napoleão de hospício. Planejou sua própria imolação, como um Napoleão se descoroando. Ficou seminu. No momento, veste apenas uma corda no pescoço. Virou uma demissão esperando para acontecer.

Araújo já havia se tornado um caso raro de chefe das Relações Exteriores que se orgulha de envenenar as relações do Estado brasileiro. "Talvez seja melhor ser esse pária deixado ao relento, deixado de fora, do que ser um conviva no banquete no cinismo interesseiro dos globalistas, dos corruptos e semicorruptos".

Graças à pandemia, Araújo atingiu o ápice da realização. Além de realizar o sonho de fazer do Brasil um "pária internacional", o gênio da diplomacia realizou o pesadelo de converter a si mesmo num pária nacional. Considerava-se um exemplo. Virou um estorvo letal.

Após atacar o "covidismo" que surgiu nas pegadas da disseminação do "comunavírus", Araújo foi intimado pelas circunstâncias a buscar no estrangeiro, sobretudo na China, os insumos hospitalares que escasseiam no Brasil.

No Congresso, pedem a cabeça de Araújo do porteiro ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco. Se dependesse de Bolsonaro, o antichanceler seria mantido na chefia do hospício diplomático. Mas o presidente terá que dar alta ao personagem, sob pena de ser chamado de louco.

Restaram a Araújo poucos apoios. Além do suporte que recebe dos zeros à esquerda da prole presidencial, ele conta apenas com os bons sentimentos de sua mulher, Maria Eduarda.

"Estão tentando transformar meu marido em bode expiatório da República", anotou a primeira-dama do anti-Itamaraty. "Patético. Aguenta firme, meu amor."

A essa altura, é difícil saber o que é mais patético, se o bode expiatório ou o bode exultório que madame tenta criar.

Enquanto aguarda pelo instante em que Bolsonaro apertará o nó ao redor do seu pescoço, Araújo despeja a Bíblia no Twitter. "O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta... Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor." (1 Coríntios 13:6-13)

Impregnado de tanto amor, Ernesto Araújo tem dificuldades para notar que a diplomacia não é coisa para amadores.