Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Copa América conduz pandemia à fase do circo
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A vida é mais sensata quando conseguimos combinar a liberdade de fazer escolhas com a responsabilidade pelas escolhas que fazemos. Ao recepcionar no Brasil uma Copa América que não teve como ser realizada na Colômbia e na Argentina, Bolsonaro inaugurou uma nova fase da pandemia: a etapa do circo.
Faz todo sentido porque a inépcia do governo Bolsonaro fez com que a administração da crise sanitária ficasse muito parecida com o futebol. A diferença é que o campo não é demarcado, canelada é liberada e gol contra conta a favor.
A competição internacional de futebol chega num instante em que governo e oposição ensaiam uma gincana para ver quem aglomera mais. Bolsonaro promove passeios coletivos de motocicleta e comícios fora de época. No último sábado, a oposição respondeu aos ajuntamentos do presidente com uma mega-aglomeração que movimentou mais de 200 cidades.
Bolsonaro perdeu a fantasia do monopólio das ruas. A oposição perdeu o monopólio do discurso sanitariamente correto. A direita vai às aglomerações do capitão. A esquerda comparece às aglomerações antibolsonaro. E o vírus prestigia as duas insanidades.
É como se os atores da política nacional reagissem à perspectiva de uma terceira onda de contágio do coronavírus com a sensibilidade de uma pedra. Mal comparando, a pandemia é uma avalanche. Infectadas, as pedras deslizam por um penhasco de incertezas e contágios. Esse movimento, quando foge ao controle, soterra o sistema de saúde, provocando mortes.
Quem enxerga nesse ambiente fúnebre razões para autorizar competições esportivas e promover aglomerações potencializa um desastre que abarrota os hospitais, tira o sono dos profissionais da saúde, sobrecarrega os coveiros e dilacera a alma dos familiares e amigos dos quase 500 mil mortos que a covid já produziu no Brasil.
Se a sociedade brasileira estivesse próxima da imunização coletiva, a irresponsabilidade já seria intolerável. Num cenário em que a maioria dos brasileiros enxerga na vacina que não chega algo tão indispensável quanto o pão, as concessões ao circo são desvios patológicos.
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