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Josias de Souza

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Mendonça vai ao STF pelos serviços prestados

Colunista do UOL

06/07/2021 18h49

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Houve um tempo em que a escolha de ministros do Supremo Tribunal Federal era feita na surdina. Havia uma comparação de currículos. Os presidentes torciam para que os escolhidos demonstrassem alguma fidelidade depois que vestissem a toga. Bolsonaro alterou esse ritual.

A seleção agora é feita sob holofotes. A lealdade conta mais do que o currículo. Os postulantes disputam a preferência do presidente numa espécie de gincana em que a poltrona vitalícia da Suprema Corte é conquistada por serviços prestados, não por serviços a prestar.

Bolsonaro disse estar decidido a indicar o advogado-geral da União André Mendonça para a vaga do ministro Marco Aurélio Mello, que está se aposentando. Na reta final, Mendonça revelou-se mais prestativo do que o procurador-geral da República Augusto Aras.

Pesaram também outros dois fatores. Mendonça é pastor presbiteriano, enquadrando-se no quesito "terrivelmente evangélico". Concluiu-se que Aras pode ser mais útil para o presidente se for reconduzido à chefia da Procuradoria, Nesse posto, pode exercitar sua vocação para o engavetamento de encrencas que estão por vir.

Mendonça já escreveu artigo enaltecendo a vitória de Lula na disputa presidencial de 2002. Torceu pela candidatura presidencial de Marina Silva, evangélica como ele. De repente, descobriu que trazia o bolsonarismo enterrado na alma.

Passou pelo Ministério da Justiça. Ao tomar posse, bateu continência para o capitão duas vezes. Chamou-o de "profeta". Banalizou o uso da Lei de Segurança Nacional em processos contra supostos ofensores de Bolsonaro. Processou até um morador do Tocantins que chamou o presidente de "pequi roído" num outdoor. Encomendou dossiês sobre 579 servidores de segurança e professores universitários.

Como advogado-geral da União, Mendonça guerreou no Supremo para garantir a realização de missas e cultos durante a Páscoa, em contraposição a governadores e prefeitos que tentavam conter a escalada da pandemia em seu período mais agudo. Pegou em lanças contra medidas restritivas de estados e municípios. Perdeu todas as batalhas. Mas ganhou o coração do dono da caneta.

Há no Supremo vários processos que afetam o presidente, seus filhos e aliados. Bolsonaro espera que a fidelidade de Mendonça se manifeste também a posteriori. Parte do Senado resiste ao escolhido. Bolsonaro decidiu pagar para ver.