Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Bolsonaro abastardou seleção de ministro do STF
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Bolsonaro transformou a indicação do substituto de Marco Aurélio Mello num processo de avacalhação que abastardou o rito de escolha de um novo magistrado para o Supremo Tribunal Federal. Outros presidentes já colocaram a toga sobre os ombros de auxiliares diretos. Mas nenhum foi tão espalhafatoso quanto Bolsonaro ao escolher o advogado-geral da União André Mendonça.
A exemplo de Mendonça, Gilmar Mendes e Dias Toffoli também ocupavam o posto de advogado-geral da União quando foram indicados para a Suprema Corte, respectivamente, por FHC e Lula. Quando foi escolhido por Michel Temer, Alexandre de Moraes era ministro da Justiça. Os patronos sempre esperam algum tipo de fidelidade a posteriori. Bolsonaro exigiu demonstração prévia de lealdade.
Mendonça teve de medir forças com o procurador-geral da República Augusto Aras. Ambos se esmeraram nos serviços prestados ao capitão. Mas Mendonça contou com uma aliada estratégica. Terrivelmente evangélica como ele, a primeira-dama Michelle Bolsonaro fez campanha doméstica pela indicação. Em privado, Bolsonaro brinca que sua mulher deixaria de dormir com ele se não escolhesse Mendonça.
Uma vez aprovada pelo Senado, a indicação não é garantia de fidelidade. Ministros como Joaquim Barbosa, Ayres Britto e Cezar Peluso, indicados por Lula, foram draconianos com o petismo no julgamento do mensalão. Ajudaram a enviar a cúpula do PT e seus financiadores para o presídio da Papuda. Selecionados por Dilma Rosseff, Edson Fachin e Luis Roberto Barroso atuaram como algozes dos encrencados no petrolão.
Esta é a segunda indicação de Bolsonaro para o Supremo. Antes dele veio Kassio Nunes Marques, escolhido menos pelo currículo do que pelas doses de "tubaína" que dividiu com o capitão no Alvorada. Mendonça pode até surpreender. Mas terá de fazer enorme esforço. No momento, peregrina pelo Senado como um advogado terrivelmente vassalo de Bolsonaro. Um presidente com muitos interesses a defender no Supremo.
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