Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Mandato de Bolsonaro vira epílogo hipertrofiado
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Eleito para governar o Brasil até 31 de dezembro de 2022, Bolsonaro conseguiu transformar o que lhe resta de mandato numa espécie de epílogo hipertrofiado. À frente do governo civil mais militar da história, o capitão promoveu um desfile de blindados na Esplanada, com passagem pela frente do do Palácio do Planalto. O que deveria ser uma exibição do poderio militar resultou numa antiapoteose que reforçou a impotência de um presidente em apuros.
O desfile de blindados foi démodé, insano, preocupante e constrangedor. Mostrou-se fora de moda porque já se foi o tempo em que os três poderes no Brasil eram exercidos pelo Exército, a Marinha e a Aeronáutica. Se a ocupação militar comandada pelo general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde serviu para alguma coisa foi para mostrar que há males que vêm para pior quando a farda deixa o quartel.
O passeio de blindados revelou-se insano porque ficou claro que Bolsonaro não cogita interromper o radicalismo teatral que abriu uma crise entre o Executivo e o Judiciário. Pareceu preocupante porque reforçou o mistério sobre o que virá depois depois da rejeição na Câmara da emenda constitucional que cria o voto impresso, obsessão de Bolsonaro. O desfile foi constrangedor porque pendurou o Brasil nas manchetes da imprensa mundial de ponta-cabeça, como uma republiqueta de bananas.
O país vive a síndrome do que está por vir. Nem os mais fervorosos adversários de Bolsonaro apostam na aprovação do impeachment. Mas até os aliados mais empedernidos do presidente começam a duvidar das chances de sua reeleição. Confirmando-se o sentimento geral, Bolsonaro faz o caminho de volta do Planalto para a planície. É desalentador perceber que sobe à cabeça do presidente um poder de que ele já não dispõe. E o poder só sobe à cabeça quando encontra um espaço baldio.
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