Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Recondução de Augusto Aras virou jogo jogado
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A dúvida é agente de insônias cruéis. Uma boa e sólida certeza, ao contrário, vale como um poderoso calmante. Prestes a ser sabatinado na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, na próxima terça-feira, o procurador-geral da República Augusto Aras não perde um segundo de sono. Indicado por Bolsonaro pela segunda vez, sua recondução ao cargo de chefe do Ministério Público Federal tornou-se um jogo jogado. A segurança de que Aras será procurador por mais dois anos contrasta com a onda de críticas resultante de sua omissão em relação aos flertes do presidente da República com a ilegalidade.
O desempenho de Aras é criticado por três dezenas de subprocuradores-gerais da República. Suas omissões fizeram dele um procurador-geral majoritário no plenário do Supremo. Seis dos ministros da Suprema Corte —com dez integrantes desde a aposentadoria de Marco Aurélio Mello— já puxaram a orelha de Aras, cobrando dele posicionamentos sobre processos contra Bolsonaro e seus auxiliares.
No pito mais radioativo, Rosa Weber recordou a Aras que não há no figurino do Ministério Público o papel de espectador-geral. No movimento mais radical, o ministro Alexandre de Moraes desligou Aras da tomada. Primeiro abre inquéritos e manda prender. Só depois pergunta a opinião de Aras. Acionada pelos senadores Alessandro Vieira e Fabiano Contarato, a ministra Cármen Lúcia deve destravar um par de pedidos de investigação sobre a conduta de Aras que correm no Conselho Superior do Ministério Público.
Como explicar que um procurador-geral crivado de contestações durma o sono manso de quem tem a certeza de que se manterá no cargo? Simples: Aras foi alçado ao posto de procurador-geral graças à união de políticos que queriam aplicar um sedativo no aparato fiscalizatório do Estado. Ele uniu pessoas tão distintas quanto Renan Calheiros, multiprocessado, e Flávio Bolsonaro, dono de biografia já bem rachadinha. Senadores que gostariam que Aras jantasse Bolsonaro não abrem mão de jantar com ele. Nesse ambiente, o brasileiro que ainda sonha com uma Procuradoria independente pergunta a si mesmo: Quem vai lavar a louça?
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