Topo

Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Tropa de choque do governo vira tropa do cheque

Colunista do UOL

03/11/2021 09h16

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

A negociação sobre a emenda constitucional que cria um Bolsa Reeleição de mais de R$ 90 bilhões para Bolsonaro converteu-se numa grande liquidação. Sem votos, o Planalto foi às compras. Num saldão antecipado de Natal, oferece aos parlamentares sobras de emendas orçamentárias ainda pendentes de liberação no ano de 2021. Coisa de R$ 13 bilhões, dos quais R$ 5 bilhões são de emendas ordinárias, de liberação obrigatória, e R$ 8 bilhões se referem ao pedaço extraordinário do bolo orçamentário, distribuído secretamente aos aliados mais fieis.

A emenda que está sobre o balcão dá o calote em dívidas judiciais e abre um segundo andar sobre o teto de gastos para autorizar Bolsonaro a gastar além da conta no ano eleitoral de 2022. De saída, o candidato à reeleição conseguirá recursos para o novo Bolsa Família de R$ 400 por mês e o Bolsa Caminhoneiro de quase R$ 4 bilhões. Arthur Lira, o réu que preside a Câmara, pretendia entregar a mercadoria ao Planalto na semana passada. Ao farejar o risco de derrota, deu meia-volta. A encrenca volta à pauta nesta quarta-feira.

Há um pequeno grupo de deputados discutindo a sério mudanças de conteúdo na emenda. Estão nesse núcleo, por exemplo, parlamentares que ralam para retirar do calote dos precatórios dívidas da União com o Fundef, o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério. Mas o que trava a aprovação da emenda é a discussão sobre o preço dos votos da bancada que carrega código de barras na lapela.

Suprapartidária, a bancada dinheirista sabe que está diante da última oportunidade para arrancar verbas do governo neste ano. Bolsonaro insinuou que disporia de um plano alternativo para financiar o seu programa social seminovo. Os deputados esticam a corda. Além de morder as emendas de 2021, cavam mais R$ 20 bilhões em emendas secretas para 2022. Depois de perder a responsabilidade fiscal, o governo perde na xepa do Legislativo os últimos resquícios de compostura. A tropa do choque governista virou tropa do cheque.