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Josias de Souza

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Juízes e servidores da Justiça engrossam movimento por reajustes salariais

Colunista do UOL

20/01/2022 19h37

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Há uma ebulição sindical no setor público. Num instante em que mais de 40 categorias de servidores federais ameaçam deflagrar uma greve em fevereiro por reajustes salariais de até 28%, juízes e funcionários da Justiça decidiram levar os lábios ao trombone. Representantes da Federação Nacional dos Trabalhadores do Judiciário e do Ministério Público e da Associação dos Magistrados Brasileiros pressionam ministros do Supremo Tribunal Federal por aumentos.

Essa efervescência reivindicatória chega em hora imprópria, pois o desejo de engordar os contracheques não orna com a penúria dos cofres do Tesouro. Destoa também da realidade do mercado de trabalho privado, onde proliferam o desemprego, o subemprego e ocupações que submetem a maioria dos brasileiros a uma rotina em que sobra cada vez mais mês no fim do salário.

Os servidores estão sem aumentos há mais de três anos. Mas mantiveram os empregos e não sofreram redução nominal dos contracheques durante a pandemia. Em comparação com os brasileiros que ralam no setor privado, são privilegiados.

Duas curiosidades marcam a cruzada por reajustes. A primeira é que o movimento foi puxado pela elite do funcionalismo. A segunda é que a encrenca foi deflagrada por Bolsonaro. Ao reservar no Orçamento federal R$ 1,7 bilhão para reajustar os salários de policiais federais, o presidente atirou contra o pé do contribuinte, deflagrando um efeito dominó.

Como se tudo isso fosse pouco, descobriu-se que o Procurador-Geral da República Augusto Aras promoveu uma farra com verba pública. Há no Ministério Público Federal 1.145 procuradores. A pretexto de antecipar vantagens e quitar privilégios atrasados, Aras autorizou o pagamento de contracheques em dezembro que variaram de mais de R$ 100 mil a quase meio milhão de reais. Beneficiaram-se 720 procuradores. Um deles beliscou R$ 471 mil.

É como se as corporações públicas vivessem num país paralelo cujos habitantes não se enxergam como parte do problema. O Brasil real é que é o problema deles.