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Discurso eleitoral do capitão foi parar na cadeia
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São devastadores para a campanha de Bolsonaro os efeitos da prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e dos pastores que trocaram propina por verbas públicas no Ministério da Educação. A cara do presidente, que estava chamuscada, ficou carbonizada. Seu discurso anticorrupção foi parar na cadeia. O desespero de Bolsonaro tende a aumentar assim que ele se der conta dos riscos a que estará sujeito caso deixe de dispor das imunidades e da blindagem que o cargo de presidente lhe proporcionam.
"Ele que responda pelos atos deles", declarou Bolsonaro, tomando distância. "Se a PF prendeu, tem um motivo". Assim fica fácil. Primeiro, o presidente entrega os cofres do MEC ao centrão. Depois, manda o ministro abrir as portas da pasta para seus pastores de estimação. Confrontado com o noticiário sobre a corrupção, acusa a imprensa de "covardia" e coloca a "cara no fogo" pelo auxiliar. Consumada a prisão, finge que não tem nada a ver com o problema. Fica entendido que, sob Bolsonaro, o cinismo também é uma forma de patriotismo.
Bolsonaro caiu em sua própria armadilha. Demitiu o pastor Ribeiro quando ficou claro que sua permanência no cargo intoxicava a campanha à reeleição. Com o gesto, retirou do auxiliar o foro especial que mantinha o caso no Supremo. O envolvimento do presidente da República poderia reter o caso na Corte Suprema. Mas a Advocacia-Geral da União disse que nada era como parecia ser.
Ouvida, a Procuradoria-Geral da República também livrou a cara de Bolsonaro. O caso desceu, então, para a primeira instância do Judiciário. Deu no que está dando.
Quando ainda ostentava o cargo de ministro, Milton Ribeiro disse que privilegiava requisições de verbas avalizadas por pastor evangélico graças a um "pedido especial" de Bolsonaro. O comentário foi gravado.
Os pastores lobistas tinham acesso privilegiado também ao Planalto. Estiveram com Bolsonaro e outras autoridades palacianas. No total, participaram de 35 reuniões na sede do governo.
A despeito de todas as evidências em contrário, a vice-procuradora-geral da República Lindôra Araújo, braço direito do antiprocurador-geral Augusto Aras e simpática ao bolsonarismo, sustentou em ofício remetido ao Supremo que não havia elementos para investigar Bolsonaro. Àquela altura, Milton Ribeiro já não era ministro.
A manifestação de Lindôra foi uma resposta à ministra Cármen Lúcia. Relatora da encrenca no Supremo, ela estranhara a ausência de Bolsonaro no pedido de abertura de inquérito formulado pela Procuradoria-Geral. Para Aras e sua equipe nem mesmo a menção ao nome do presidente em áudio do então ministro justificava uma apuração para verificar até que ponto a cara de Bolsonaro estava tostada pelas labaredas do MEC.
Cármem Lúcia viu-se compelida a enviar o caso para o primeiro grau, um nível que não se encontram no raio de abrangência da blindagem de Aras e do setor da PF que se dedica à investigação de parlamentares e autoridades de primeiro escalão. O lero-lero de Bolsonaro segundo o qual não haveria corrupção no se governo já havia perdido o prazo de validade. Com a prisão dos pastores, esse discurso virou conversa de pátio de penitenciária.
Aos pouquinhos, Bolsonaro vai percebendo os riscos que correm os parceiros e os cumplices do centrão quando não dispõem do escudo proporcionado pelas prerrogativas de um cargo graúdo.
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