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Josias de Souza

REPORTAGEM

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Bolsonaro agora precisa rezar para que Ribeiro coloque cara no fogo por ele

Colunista do UOL

23/06/2022 09h16

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Na avaliação feita pelo comitê de campanha de Bolsonaro, a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro e dos pastores lobistas do MEC tem alto potencial destrutivo. Montou-se às pressas uma operação para tentar reduzir os danos. O plano foi estruturado em cima de um paradoxo: Em público, tenta-se distanciar Bolsonaro de Ribeiro. Nos bastidores, o Planalto envia ao ex-ministro a mensagem de que ele não será abandonado. Bolsonaro agora precisa rezar para que Milton Ribeiro se disponha a colocar a cara no fogo por ele.

Instalou-se ao redor de Bolsonaro uma atmosfera que foi definida por um dos operadores do presidente como de "alta tensão". A 100 dias da eleição, injetou-se uma crise ética dentro da campanha num instante em que o candidato já arrasta pela conjuntura a bola de ferro da crise econômica. Elegeu-se como prioridade a preservação de três pilares da estratégia eleitoral traçada anteriormente.

Num esforço para manter a pregação anticorrupção, decidiu-se aprofundar a tática de rememorar os escândalos da era petista. Imagina-se que isso inibirá a exploração do escândalo pelo PT e por Lula. Mobilizaram-se pastores amigos para tentar evitar prejuízos à aliança mística que Bolsonaro cultiva com a religiosidade. Donos de 32 milhões de votos, os evangélicos genuínos não costumam compactuar com transgressões éticas. Teme-se que o caso dos pastores leve ao desembarque de parte desse segmento.

De resto, o comitê de Bolsonaro busca informações que permitam à campanha caminhar à frente dos investigadores. O processo da Controladoria-Geral da União sobre as perversões dos pastores está sendo esquadrinhado pelo comitê da reeleição. Bolsonaro encomendou ao Ministério da Justiça dados detalhados sobre o inquérito da Polícia Federal. O presidente dá de ombros para o fato de que o processo corre em sigilo.