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Lula precisa incluir elo miliciano do seu ministério no pacote do revogaço
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Lula inaugurou o seu terceiro mandato desembrulhando um pacote de atos destinados a revogar absurdos adotados sob Bolsonaro. O presidente precisa incluir no revogaço um ato assinado por si mesmo. Ou Lula cancela a nomeação da deputada Daniela Carneiro para o cargo de ministra do Turismo ou se arrisca a transformar em marolinha a onda de otimismo produzida por sua posse.
Daniela do Waguinho, como é conhecida a ministra, elegeu-se deputada federal em 2018 numa campanha que teve como cabo eleitoral o ex-sargento da PM do Rio de Janeiro Juracy Alves Prudêncio, o Jura. Trata-se de um chefe de milícia condenado a 26 anos de cadeia por assassinatos na baixada fluminense. O elo miliciano da ministra, documentado em fotos e vídeos, borrifou na Esplanada de Lula um inusitado aroma bolsonarista.
A ministra alegou em nota que não compactua com qualquer apoiador que tenha cometido crimes. Em 2017, quando desfrutava do regime semiaberto de prisão, o miliciano Jura foi abrigado na folha salarial da prefeitura de Belford Roxo, comandada pelo prefeito Waguinho, marido da nova ministra. O caso ganhou as machetes. Jura foi demitido. E voltou para o regime fechado.
A distribuição de boquinhas para milicianos e seus familiares tornou-se trivial na política fluminense. Flávio Bolsonaro, por exemplo, começou convertendo em coletor de rachadinhas o ex-subtenente da PM Fabrício Queiroz, fiel escudeiro do seu pai. E terminou contratando a mãe e a ex-mulher do ex-capitão-miliciano Adriano da Nóbrega, chefe do Escritório do Crime.
Miliciano de estimação dos Bolsonaro, Adriano da Nóbrega foi morto numa operação policial no interior da Bahia. Estava num sítio do vereador Gilsinho da Dedé, eleito pelo PSL. Antigo partido de Bolsonaro, o PSL cruzou com o DEM e deu à luz ao União Brasil, a legenda da ministra Daniela do Waguinho, que Lula tenta atrair para o consórcio que está montando no Congresso.
A fauna miliciana de Adrianos e Juracys inclui outros personagens célebres. Entre eles o sargento reformado Ronnie Lessa, ex-guarda-costas de bicheiros, e o ex-PM Élcio Queiroz, ex-segurança de cassinos clandestinos. A dupla está presa sob a acusação de ter assassinado a vereadora Marielle Franco.
Lula acomodou na poltrona de ministra da Igualdade Racial a irmã de Marielle, Anielle Franco. Noutro gesto, Lula deu mão forte a Flávio Dino, seu ministro da Justiça, para converter em "questão de honra" a identificação do mandante da execução de Marielle.
O pragmatismo político, quando levado às fronteiras do paroxismo, produz vexame e encolhimento. A presença de um elo miliciano na pasta do Turismo deixa o governo sem nexo. Costuma-se dizer que a mentira tem pernas curtas. Os paradoxos da equipe de Lula transformar o compromisso de renovação numa meia verdade de pernas quebradas.
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