Josias de Souza

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Biden dispensa asas da ONU e pula no escuro com Netanyahu

Perguntou-se ao presidente dos Estados Unidos quando o socorro humanitário chegaria à Faixa de Gaza. E Joe Biden: "O mais rápido possível". Para uma pessoa que está sem água, comida e remédios, o melhor momento para o surgimento de socorro é anteontem. O segundo melhor momento é imediatamente.

Alheio à urgência, o comunicado divulgado pelo gabinete de Benjamin Netanyahu evitou definir "rápido". A equipe do primeiro-ministro de Israel escreveu o seguinte: "À luz do pedido do presidente Biden, Israel não impedirá a assistência humanitária via Egito, desde que seja apenas de alimentos, água e medicamentos para a população civil localizada no sul da Faixa de Gaza".

Nenhuma menção a datas, quantidades e periodicidade. Nada sobre os métodos a serem usados para distinguir famintos de terroristas. Nenhum aceno para quem ficou na área norte de Gaza. Nem sinal da abertura dos portões do Egito para os palestinos e estrangeiros que desejam deixar a zona de guerra, entre eles 30 brasileiros.

Ao vetar a resolução humanitária proposta pelo Brasil no Conselho de Segurança da ONU, o governo americano como que terceirizou a Biden o exercício da diplomacia mundial. "Estamos lá dando duro na diplomacia e precisamos deixar que esta diplomacia opere", disse Linda Thomas-Greenfield, a embaixadora dos Estados Unidos nas Nações Unidas.

Alguns países cultivam o mito da excepcionalidade. Mas poucos exercitam como os Estados Unidos essa pretensão de ser uma potência moral, que só deve contas à sua própria noção de superioridade. Ao dispensar as asas negociadas no Conselho de Segurança da ONU, Biden pulou de um penhasco no escuro, agarrado a Netanyahu, imaginando que conseguirá construir suas próprias asas no caminho. Pode voar ou se esborrachar.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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