Delação de Mauro Cid se tornou inusitado strip-tease ao contrário
À medida que vão sendo descobertos os detalhes de depoimentos de Mauro Cid à Polícia Federal, consolida-se a percepção de que todas as verdades de Bolsonaro eram mentiras à espera de uma delação e de alguma investigação. Na penúltima revelação, o ex-ajudante de ordens se reconciliou com o óbvio. Admitiu que apenas cumpriu ordens ao falsificar os cartões de vacina contra Covid em nome do ex-chefe e da filha dele, Laurinha. Contou que entregou os cartões fraudados nas mãos do próprio Bolsonaro.
A delação do tenente-coronel tornou-se um espetáculo inusitado, uma espécie de strip-tease ao contrário. A apreensão do celular havia deixado Mauro Cid nu. Para evitar que a Polícia Federal apalpasse as vergonhas do ex-chefe, o ex-faz tudo do Planalto assumia culpas alheias. Com as confissões, Cid recupera peças de roupa à medida que vai despindo Bolsonaro.
Admitindo que cumpria ordens superiores ao baixar do aplicativo ConectSus os cartões de vacina de Bolsonaro e de Laurinha, Cid recuperou a camiseta. Ao reconhecer que o ex-chefe tentou incorporar ao seu patrimônio pessoal joias e presentes do acervo público, obteve de volta a jaqueta. Com a revelação de que testemunhou reunião em que Bolsonaro discutiu com a cúpula militar uma minuta de golpe Cid conseguiu reaver a roupa de baixo.
A delação não restituirá a Cid as calças da farda. O sonho do generalato foi para o beleléu. Condenado, o tenente-coronel talvez obtenha uma redução de pena. Mas poderá vestir trajes civis. Quanto a Bolsonaro, continuará pelado. Futuras sentenças revelarão que o capitão impôs ao Brasil a nudez que ninguém pediu, que ninguém queria ver. O país viveu sob Bolsonaro uma de suas épocas mais despidas. A delação de Cid expõe uma Presidência obscena.
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