Josias de Souza

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Alvorada foi imóvel multiuso sob Bolsonaro: de covil a valhacouto

Noutros tempos, os brasileiros costumavam perguntar: "Sabe a última do papagaio?" Desde que Mauro Cid decidiu abrir o bico, a indagação passou a ser outra: "Sabe a penúltima do Bolsonaro?" A diferença é que, embora Bolsonaro e o papagaio sejam criaturas repetitivas e tenham a mesma coloração verde-oliva, as desgraças do capitão destoam da graça da ave.

O ex-ajudante de ordens já havia contado à Polícia Federal que Bolsonaro utilizou o Alvorada como antro do golpismo. Reuniu-se ali com a cúpula das "minhas Forças Armadas" para discutir uma virada de mesa capaz de impedir a posse de Lula. Descobre-se agora que Cid revelou também que precisou demover Bolsonaro da ideia de esconder no Alvorada representantes daquilo que ele chamava de "minha mídia". Gente como os influenciadores digitais Oswaldo Eustáquio e Bismark Fugazza.

Quando projetou o Alvorada, Niemeyer não poderia supor que um presidente alucinado converteria o palácio em imóvel multiuso. O gênio da arquitetura reservou espaço para quase tudo nos 7.300 metros quadrados de mármore e vidro, sem contar os 1.800 metros do anexo de serviço. Mas não há no projeto espaço para covil de golpistas ou valhacouto de milicianos digitais.

As penúltimas revelações conhecidas de Mauro Cid sobre Bolsonaro aconteceram em dezembro de 2022. Nessa época, o delatado, trancado em seus rancores, tomava chá de sumiço no interior do Alvorada. O silêncio que se ouvia no cercadinho soou como um bálsamo. Enquanto o poder se deslocava do Planalto para os gabinetes do governo de transição, o Brasil passava os ouvidos a limpo sem suspeitar que Bolsonaro tramava às escondidas passar a história a sujo. Falta a esse enredo um lote de sentenças condenatórias.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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