Fogo do Ninho do Urubu ainda arde 5 anos depois da tragédia
Na definição do escritor irlandês James Joyce, a história é um pesadelo do qual estamos tentando acordar. No caso do incêndio que há cinco anos matou dez adolescentes no Ninho do Urubu, o centro de treinamento do Flamengo, a história é o dossiê criminal de uma culpa documentada. O déficit de responsabilização judicial condena os familiares dos rapazes mortos a um pesadelo perpétuo, do qual é impossível acordar.
O Flamengo joga no esquecimento. Seus dirigentes sabem que, no Brasil, quem aposta na falta de memória não costuma se arrepender. É contra esse pano de fundo que estreou na Netflix, nesta quinta-feira, a minissérie documental "O Ninho: Futebol & Tragédia". Nasceu de uma ideia original do UOL. Foi produzida por A Fábrica. A direção coube a Pedro Asbeg. Tem três preciosos episódios. Reconstituem, com sensibilidade e apuro técnico, uma história sobre o sofrimento que a imperfeição humana pode causar.
O sonho de jogar no maior e mais festejado clube do país foi carbonizado dentro de um contêiner-dormitório. O incêndio não brotou do acaso. O apagão veio antes do curto-circuito no aparelho de ar-condicionado. Numa troca de emails que virou notícia e recheio de processos judiciais, o Flamengo flertou com o homicídio. O clube agiu como um irresponsável autossuficiente.
O Flamengo enfiou os rapazes dentro de uma gambiarra, ele mesmo se absteve de obter alvará dos Bombeiros, ele mesmo contratou a empresa que detectou os riscos elétricos iminentes, ele mesmo deu ombros para os alertas, ele mesmo instruiu os funcionários a enrolar a fiscalização.
O descaso criminoso deu em morte, sofrimento, morosidade judicial e impunidade. A minissérie serve para mostrar que o fogo do Ninho do Urubu ainda arde na alma dos que foram condenados a não acordar do pesadelo.
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