Jabaculê de farmacêuticas pede código de falta de ética médica
Alguma coisa está muito errada quando os médicos avaliam que está tudo certo em aceitar de laboratórios farmacêuticos mimos como contratos rentáveis, viagens ao estrangeiro, lautos jantares e presentes caros. O conflito de interesses é cristalino como água de bica.
De um lado, estão a saúde da coletividade e o direito individual dos pacientes ao melhor remédio, prescrito por profissionais independentes. Na outra ponta, está o interesse comercial dos fabricantes de medicamentos que investem milhões na compra da consciência e da caneta dos médicos. No meio desse relacionamento promíscuo, há o vácuo da omissão de conselhos profissionais e do Estado.
Uma das características mais curiosas da moral transigente do brasileiro é que a falta de ética está sempre em outros grupos. O mais comum e colocar a culpa em Brasília. É como se o regime do "quanto eu levo nisso" tivesse começado não com a chegada das caravelas, mas com a entrada das máquinas pesadas no primeiro canteiro de obras lamacento da capital.
Se o brasileiro fizesse uma excursão pelo seu íntimo, perceberia que o problema não está apenas na Brasília de Niemeyer, mas na Brasília que cada um traz enterrada dentro de si mesmo. O médico que faz ao paciente a fatídica pergunta -"com recibo ou sem recibo?"- não está senão exibindo o seu jeitão Brasília. É como se dissesse: "Sonego imposto. E quem me ajuda a sonegar paga menos".
O doutor que aceita jabaculê de laboratório farmacêutico não é muito diferente do político que recebe propina de empreiteira ou do magistrado que ganha para fazer palestra em ambientes frequentados por clientes de caderneta do Judiciário. Os médicos já dispõem de um código de ética. A corporação deveria cogitar a hipótese de elaborar um código de falta de ética.
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