Josias de Souza

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Opinião

Defesa do capitão cutuca Moraes com o pé para ver se ele morde

Digam o que disserem da equipe de advogados de Bolsonaro, não se pode deixar de admirar seu talento para ajustar a realidade às conveniências processuais. Na resposta requerida por Alexandre de Moraes, a defesa trata a hospedagem de dois dias do seu cliente na embaixada da Hungria como um fato volúvel. Esforça-se para demonstrar como é injusto que uma nação inteira se submeta ao óbvio sem que Bolsonaro possa reagir.

Por exemplo: por que o investigado deve conviver com a obviedade de que estava com medo de ser preso e buscou refúgio diplomático sob as asas do amigo Viktor Orbán só por respeito aos fatos, que não tiveram nenhum respeito pelo seu drama criminal? Para a defesa, é mais conveniente eliminar os fatos do roteiro.

Pode não facilitar a situação penal de Bolsonaro. Mas ajuda a melhorar a autoestima do capitão a versão segundo a qual não teria motivos para "suspeitar minimamente" que Xandão poderia mandar prendê-lo. Leva paz de espírito à alma de Bolsonaro o lero-lero de que pernoitou duas noites numa embaixada que fica a 20 minutos de sua casa apenas para manter "contatos" com autoridades húngaras.

Bolsonaro já demonstrou que é adepto da linha "Fatos? Que fatos?". Ele nega até a existência de um golpe militar que durou duas décadas e faz aniversário de 60 anos no próximo domingo. A questão é saber se Alexandre de Moraes vai endossar essa linha que ignora o óbvio ou vai enxergar as explicações sobre a hospedagem na embaixada como um cutucão da defesa com o pé para ver se ele morde. As opções de mordida vão da tornozeleira eletrônica à prisão preventiva.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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