Sob Lula, Petrobras ganha uma aparência de padaria de esquina
Em 7 de março, Lula interveio na Petrobras para brecar a distribuição de dividendos extraordinários de R$ 43,9 bilhões aos acionistas. A decisão produziu um curto-circuito que eletrocutou o humor dos investidores e gerou uma perda de R$ 55,2 bilhões no valor de mercado da companhia.
Jean Paul Prates, o presidente da Petrobras, defendia que pelo menos metade dos dividendos extras fossem distribuídos. Atropelado, Prates se absteve de votar na reunião do conselho de administração da estatal. Lula ficou tiririca.
Decorridos menos de 30 dias, três ministros reuniram-se nesta semana no Planalto e fecharam, sem a presença de Prates, um acordo para distribuir não metade, mas 100% dos dividendos.
Fernando Haddad (Fazenda) argumentou que precisa do dinheiro para manter viva a meta de zerar o déficit do Tesouro em 2024. Como acionista majoritária da Petrobras, a União morde R$ 12,6 bilhões do bolo de dividendos.
Alexandre Silveira (Minas e Energia) e Rui Costa (Casa Civil), que ajudaram Lula a levar o pé à porta um mês atrás, alinharam-se a Haddad. De repente, estabeleceu-se a concórdia.
Dá-se de barato em Brasília que o mesmo Lula que no mês passado afirmara que o mercado de capitais é "um dinossauro voraz, que quer tudo para ele e nada para o povo", agora avalizará a distribuição de pelo menos 50% dos dividendos extraordinários da Petrobras.
Sem uma boa explicação para o cavalo de pau, resta a impressão de que, na maior e mais vistosa estatal do país, somas bilionárias oscilam com a ligeireza de contas aritméticas feitas em papel de embrulhar pão.
Simultaneamente, Lula submete o poder de Jean Paul Prates a um inusitado processo de pulverização. Vinha sendo dissolvido em banho-maria na Casa Civil de Rui Costa. Entraria em ebulição no final do ano.
Numa entrevista tóxica, Alexandre Silveira empurrou o chefe da Petrobras com o cotovelo para o óleo quente. Bem passado, Prates cobrou "uma conversa definitiva" com Lula. Foi transferido da frigideira para o micro-ondas.
A notícia de que Lula sondou Aloizio Mercadante para ocupar sua cadeira, converteu Prates em pó. E deu à Petrobras, maior empresa de capital aberto do Brasil, uma inusitada aparência de padaria da esquina.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.