Jantar de togas com Lula dá ao STF aspecto de bancada do PT
Sob ataque de Bolsonaro, das redes sociais bolsonaristas, da banda miliciana do Congresso e até de Elon Musk, o Supremo Tribunal Federal deveria retornar ao seu quadrado constitucional, onde reside a sua supremacia. Nele não se incluem conchavos políticos nem congraçamentos noturnos em casas do Lago Sul.
Alheio às conveniências, Gilmar Mendes abriu sua residência para um repasto na noite de segunda-feira. Recepcionou Lula, que estava acompanhado do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, e do chefe da AGU, Jorge Messias. O anfitrião convidou outras três togas: Flávio Dino, Cristiano Zanin e Alexandre de Moraes, relator-geral da República
Surgiram as primeiras notícias sobre a conversa que temperou o feijão com arroz de Gilmar — dos ataques ao Judiciário à precariedade do governismo no Legislativo, do oportunismo de Musk à urgência na regulação das redes sociais. A descontração foi permeada pelo pessimismo.
Pode-se alegar que ministros do Supremo têm o direito de dividir a mesa do jantar com quem bem entenderem. Mas não há força no universo capaz de deter a maledicência segundo a qual um encontro de 36,3% do Supremo com Lula dá a 100% do plenário da Corte uma aparência de bancada do PT.
Bolsonaro percorre a conjuntura intercalando os pernoites na embaixada da Hungria e comícios nos quais exibe sua pose de vítima e fala sobre uma hipotética perseguição e uma idílica anistia. Em algum momento, o Supremo terá que julgar as futuras ações penais contra o capitão. Diante das lentes da TV Justiça, cada ministro vai votar escorando-se na Constituição e nas provas. Prevalecendo a lógica, o futuro réu irá para a cadeia.
Nessa hora, Bolsonaro talvez tente criar uma crise. Não parece razoável que seus futuros julgadores forneçam desde logo, em refeições servidas fora dos autos, material para a fabricação das fabulações do provável futuro condenado.
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