Josias de Souza

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Opinião

Bolsonarismo importa munição de Washington: 'Biden da Silva'

Se o drama eleitoral vivido por Joe Biden nos Estados Unidos serve para alguma coisa é para demonstrar que, na política, a idade avançada pode ser um preço alto que se paga pela experiência.

Pesquisa divulgada no final de semana pela emissora americana CBS mostrou que 72% dos eleitores acreditam que Biden, 81 anos, não deveria disputar a reeleição no pleito marcado para novembro.

No Brasil, a oposição bolsonarista enxergou no drama do adversário de Donald Trump uma oportunidade a ser aproveitada. Antecipando um debate que só ocorreria em 2026, o senador Ciro Nogueira empinou o fator etário.

Respondendo a Lula, que disse no final de semana ter herdado do antecessor um governo em ruínas, comparável à "Faixa de Gaza", Ciro chamou-o de "Biden da Silva". Anotou nas redes sociais que "seu tempo passou". Escreveu que Lula perdeu o "contato com a realidade".

Em resposta, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann disse que não convém aos bolsonaristas ficar "assanhados" com a política de Washington. "Não crie ilusões", disse Gleisi a Ciro. "O tempo da democracia, da verdade e da justiça nunca passa..

Alheio às provocações do ex-chefe da Casa Civil de Bolsonaro, Lula reconheceu nesta segunda-feira, em entrevista a uma rádio da Bahia, que Biden tem "um problema", pois demonstrou "fragilidade" no debate televisivo com Trump.

Em meio às discussões sobre a substituição do candidato democrata, Lula disse que cabe ao próprio Biden decidir. "Ele que tem que avaliar se está bem", declarou. "Se ele achar que está em condições, ótimo. Mas se ele não está, é melhor eles tomarem uma decisão."

Na prática, Lula expôs um dilema que a direita brasileira atribui a ele próprio. Em 2026, o presidente brasileiro, provável candidato à reeleição, terá 80 anos, um a menos que Biden.

A munição do bolsonarismo parte do pressuposto equivocado segundo o qual todos os seres humanos são iguais. A igualdade absoluta, como se sabe, é uma impossibilidade genética. Lula não é Biden. Se tiver saúde e desempenho, será candidato a um quarto mandato.

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Para fazer-lhe frente, a direita nacional terá que tomar distância do coquetel programático de Bolsonaro, 100% feito de resíduos verbais herdados das décadas de 1960 e 1970. Isso inclui um moralismo bisonho, a idolatria à ditadura militar, ódio à diversidade e o desapreço à liturgia democrática. Esse ideário foi derrotado em 2022.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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