Josias de Souza

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Opinião

Campanha de SP testa o poderio da tevê diante das redes sociais

Começa nesta sexta-feira a temporada da propaganda eleitoral no rádio e na TV. A experiência transformará a disputa pela prefeitura de São Paulo num laboratório eletrônico, uma espécie de teste do poder de fogo da TV diante da influência das redes sociais.

O tira-teima será proporcionado principalmente pela disputa particular que Ricardo Nunes trava com Pablo Marçal pelos votos conservadores em geral e pela preferência do eleitorado bolsonarista em particular.

Cavalgando uma megacoligacão de 12 partidos, Ricardo Nunes dispõe da maior fatia de exposição televisiva, com 6 minutos e 30 segundos diários. A bordo do nanico PRTB, um partido sem representação no Congresso, Pablo Marçal não dispõe de um mísero segundo na TV.

Marçal teve crescimento meteórico nas pesquisas, a ponto de ameaçar a presença de Nunes no segundo turno, graças ao vele-tudo das cenas recortadas que exibe para o grande número de seguidores que coleciona nas plataformas digitais.

Com a audiência anabilizada por um exército remunerado de milicianos digitais que propagam seus recortes pelas redes, Marçal teve os perfis bloqueados pela Justiça Eleitoral no último final de semana. Mas abriu perfis alternativos, recuperando milhões de seguidores em poucas horas.

Nunes assegura que a superexposição televisiva garantirá sua eleição. A história mostra que pode não ser verdade. Se fosse, Rodrigo Garcia estaria no Palácio dos Bandeirantes no lugar de Tarcísio de Freitas, pois dispunha, na eleiçao de 2022, de quase o dobro do tempo do atual governador. E não foi sequer para o segundo turno, no qual Tarcísio prevaleceu sobre Fernando Haddad.

Geraldo Alckmin acalentava a mesma ilusão na disputa presidencial de 2018. Dizia que a campanha só começa quando a propaganda eleitoral atrasa o início da novela. Desfrutava de cinco minutos e 30 segundo no horário eleitoral, contra 8 segundos de Bolsonaro.

Atrasando-se o relógio até 1989, chega-se ao fiasco de Ulysses Guimarães. Era um potentado eleitoral, com retaguarda partidária, biografia irretocável e tempo de sobra na televisão. Humilhado por Fernando Collor, não chegou ao segundo turno.

Guilherme Boulos, que divide o topo das preferências do eleitorado com Nunes e Marçal, no empate triplo detectado pelas pesquisas, dispõe da segunda maior janela televisiva de São Paulo, com 2 minutos e 22 segundos.

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Na sequência, vêm José Luiz Datena, com 35 segundos, e Tabata Amaral, com 30 segundos. Na rabeira das pesquisas, a dupla será compelida a combinar a presença nos meios tradicionais de comunicação com aparições nas redes sociais.

Além de aparecer durante a exibição de programas eleitorais diários de 20 minutos, dividos em dois blocos de dez minutos pela manhã e à noite, os candidatos invadirão a casa dos eleitores em inserções de 30 e 60 segundos. Ao longo da campanha, Nunes será beneficiário 1.913 aparições. Boulos, terá 700 inserções. Datena, 174. Tabata, 151.

Mal comparando, essas as aparições, que capturam a atenção da audiência desprevenida entre 5h e meia-noite, funcionam como os recortes despejados por Marçal nas redes sociais. Como de hábito, os candidatos usarão parte da propaganda para lustrar as próprias biografias, expor propostas e torpedear adversários.

Até aqui, Marçal frequentou os escaninhos da Justiça Eleitoral como alvo das ações da coligação de Tabata Amaral, que resultaram no bloqueio de suas redes oficias, e dos pedidos de resposta de Guilherme Boulos, acusado levianamente de consumir cocaína, numa farsa já desmascarada.

Farejando o que está por vir, Marçal mobiliza seu time de advogados para inverter os papeis. Antevê a hipótese de ter que protocolar no ramo eleitoral do Judiciário vários pedidos de resposta na TV, reforçando a atmosfera de tira-teima.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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