Democracia revela-se poderoso remédio anti-picaretagem em SP
Quem se apavorou com a presença do grotesco pedindo votos na eleição municipal de São Paulo perdeu a compreensão sobre o verdadeiro espírito da coisa. A coisa, no caso, é a democracia. Na idade mídia, uma notoriedade das redes sociais que se aventura na política com modos típicos da idade média inicia a aventura como uma nuvem de gás. À medida que se expande, ocupando a totalidade do ambiente, intoxica todo mundo. Envenena inclusive a si.
Na política, como no universo cósmico, a matéria surge do nada. Onde havia nada, de repente, emerge, como que por geração espontânea, uma autopresumida vocação política. O nada ganha uma cara, um nome, um partido, um registro eleitoral. Um Pablo Marçal qualquer decide, do nada, que quer ser prefeito da maior cidade do país. Apresenta-se como uma nuvem de possibilidades. Súbito, constata-se que sua especialidade é ficar fora de si. Acaba expondo o que tem por dentro.
Numa sequência de debates marcados pelo vale-tudo, consolidou-se a percepção de que o nada é um vazio que ultrapassa tudo. Didático, o anjo antissistema imprimiu na campanha de 2024 um rastro de grosserias. Portou-se como um suicida voador, do tipo que apara as próprias asas. Em pleno voo, o anjo declarou que age como idiota porque o eleitor gosta disso. O Datafolha informa que, no momento, quase metade do eleitorado (47%) abomina a ideia de fazer o papel de imbecil.
Houve quem imaginasse que o melhor seria excluir a abjeção dos debates. Por sorte, nem todos confundiram o verdadeiro espírito da coisa. Num processo democrático, a picaretagem precisa ser exposta, não escondida. A abjeção ainda soma 19% das intenções de voto. Mas é preciso confiar no milagre cívico embutido na célebre tese de Churchill segundo a qual a democracia é a pior forma de regime salvo todas as demais. A consolidação da democracia passa, necessariamente, pelo convívio com o grotesco.
Deixe seu comentário