Militância paga põe fim à mística revolucionária da velha esquerda

Noutros tempos, a contratação de pessoas para distribuir material de campanha nas ruas era coisa da direita. A notícia de que a campanha de Guilherme Boulos gastou R$ 6,2 milhões para remunerar hipotéticos militantes mostra que já não há diferenças ideológicas na gestão das arcas eleitorais.
O PT costumava vangloriar-se de sua militância, capaz de descer ao meio-fio movida apenas pela causa. Quando os escândalos do poder turvaram os propósitos, o PSOL surgiu de uma costela do petismo para restaurar os ânimos. Hoje, unidas em torno de Boulos, as suas legendas recorrem a militantes pagos.
Num instante em que o bolsonarismo acomoda toda a esquerda sob o guarda-chuva do "comunismo", o comitê de Boulos sente falta da militância voluntária. Um tipo de mão de obra que, estalando de pureza ideológica, dava sempre a impressão de estar na bica de invadir o Palácio de Inverno.
Alguns desses antigos militantes se desiludiram. Outros se renderam às prebendas de um Estado aparelhado, infiltrando-se em cargos de confiança nos ministérios, repartições públicas e gabinetes legislativos.
Um terceiro grupo envelheceu, criou barriga, constituiu família e foi ralar pelo leite das crianças. Quem não consegue colocação aceita distribuir material e ornamentar eventos de campanha por R$ 1.350 ao mês. A militância remunerada pôs fim à mística revolucionária da velha esquerda.
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