Josias de Souza

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Opinião

Culpar as pesquisas não ajuda a cobrir déficit de votos de Boulos

Num sortilégio de São Pedro, a urucubaca climática revelou-se suprapartidária em São Paulo. As chuvas do final de semana não trouxeram o novo apagão temido por Ricardo Nunes. Dessa vez, encharcaram a agenda de Guilherme Boulos, forçando-o a cancelar na última hora as caminhadas que faria neste sábado em dois bairros periféricos, na companhia de Lula.

O corpo a corpo foi substituído por uma live, transmitida desde a casa de Lula na capital paulista. Lero vai, lero vem, Boulos disse duvidar das pesquisas de intenção de voto que atribuem vantagem a Nunes na corrida pela prefeitura. Boulos alegou que sua confiança na vitória se baseia no desejo de mudança que recolhe dos eleitores nas suas andanças por São Paulo.

Na antevéspera, a Justiça Eleitoral rejeitara liminar do comitê de Boulos que pedia para interromper a divulgação de pesquisa feita na semana passada pelo Datafolha. Mostrava Nunes com 55%, contra 33% atribuídos ao rival. O juiz Rodrigo Marzola Colombini anotou em seu despacho não enxergar "de plano deficiência técnica ou indício de manipulação". Requisitou a manifestação do Ministério Público e a defesa do Datafolha.

Ironicamente, Boulos amargara em abril, ainda na fase de pré-campanha, uma condenação judicial por manipular os resultados de uma pesquisa. Em postagem feita no mês anterior, havia embaralhado percentuais de três cenários com diferentes adversários para sustentar que liderava a disputa "contra qualquer bolsonarista". Acionada por Ricardo Nunes e Tabata Amaral, a Justiça Eleitoral concluiu que a fusão de dados resultara numa publicação com aparência de "frankenstein". Boulos foi multado em R$ 53,2 mil.

Ao longo do primeiro turno, Boulos e os operadores de sua campanha se aborreceram com o fenômeno Pablo Marçal. Oscilaram entre o medo da exclusão do segundo round e a torcida para que Nunes ficasse de fora do tira-teima final. As pesquisas acertaram no olho da mosca ao apontar o empate triplo desfeito na última hora pelas urnas. Revelaram-se acertadas também as previsões segundo as quais Nunes seria um adversário mais duro de roer para Boulos do que Marçal.

Súbito, o aborrecimento que atormentava a campanha de Boulos mudou de patamar. Num primeiro instante, virou nervosismo. Evolui gradativamente para o desespero. Quando alguém está aborrecido, aborrece os outros. O desesperado é diferente. Prejudica a si mesmo. Socar a mesa ou esmurrar as pesquisas não ajudam a cobrir o déficit de votos. Tampouco fazem desaparecer os 56% de rejeição atribuídos a Boulos no Datafolha da última quinta-feira.

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** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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