Josias de Souza

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Opinião

Com capitão solto, Tarcísio já estrutura pós-bolsonarismo

No primeiro turno da eleição municipal de São Paulo, espremido entre Ricardo Nunes e Pablo Marçal, Bolsonaro acovardou-se atrás da ambiguidade. Apenas nesta terça-feira, a cinco dias da eleição, sentiu-se à vontade para estrear num ato presencial da campanha de Nunes. Preferiu escancarar o oportunismo e flutuar no favoritismo alheio do que afundar com um erro de avaliação amarrado ao pescoço.

Ao discursar numa churrascada servida para cerca de 400 empresários, Bolsonaro fez uma ligeira concessão à realidade. Autoconvertido numa espécie de sub-Tarcísio de Freitas, disse: "A campanha aqui não é minha, é do nosso prezado Nunes". Depois, em conversa com os repórteres, voltou ao normal: "O cara só pode fazer um gol se alguém passar a bola para ele. Eu joguei no meio de campo."

Na mesma entrevista, Bolsonaro repetiu que o presidenciável da direita em 2026 é ele mesmo. Acha que sua inelegibilidade será revertida. Demora a notar que, passada a eleição, estará mais próximo do banco dos réus do Supremo Tribunal Federal do que de um novo palanque. Perguntou-se ao capitão se faria aliança com o MDB de Nunes. E ele: "Vamos conversar com esses partidos aí".

Há na coligação de Nunes 12 legendas. Cinco delas ocupam onze ministérios na Esplanada de Lula. Engordam suas estruturas com verbas do orçamento federal enquanto preparam o próximo bote. Se Lula tiver saúde e desempenho, podem integrar a frente ampla do quarto mandato. Caso se confirme a vitória de Nunes, também podem estender o tapete vermelho para Tarcísio. Articulando pelas pontas, o governador de São Paulo estrutura o pós-bolsonarismo com Bolsonaro ainda solto.

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