Josias de Souza

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Opinião

Collor expõe fantasma que se esconde sob lençol da anistia

Expulso do Planalto há 33 anos após sofrer impeachment, Fernando Collor foi preso na madrugada desta sexta-feira por malfeitorias praticadas como senador entre 2010 e 2014. Assaltou R$ 20 milhões de um cofre da Petrobras. O roubo não existiria se Collor não tivesse colecionado durante sua carreira duas grandes anistias.

Após amargar a cassação política, Collor foi presenteado pelo Supremo Tribunal Federal com o arquivamento da denúncia que esmiuçou a roubalheira que maculou os dois anos e nove meses de sua Presidência corrupta. Foi sua primeira anistia, de proporções amazônicas.

Lula havia chamado Collor de "corrupto" na campanha de 1989. Um ano depois do impeachment, lapidou seu juízo sobre o ex-rival: "Ao invés de construir um governo, construir uma quadrilha como ele construiu, me dá pena, porque deve haver qualquer sintoma de debilidade no funcionamento do cérebro do Collor".

No seu segundo mandato como presidente da República, Lula entregou ao ladrão débil mental a BR Distribuidora, antiga subsidiária da Petrobras. Essa foi a segunda grande clemência concedida a Collor. Deu no que está dando. Iniciado sob Lula em 2010, o assalto de R$ 20 milhões virou escândalo em 2014, sob Dilma.

Collor foi denunciado em 2015 no âmbito da falecida Lava Jato. Hoje, o mesmo Supremo que sacramentou a parcialidade do juízo de Curitiba ao anular a sentença que levou Lula à cadeia confirma que a suspeição de Sergio Moro não apagou a corrupção. O azar do novo presidiário foi o foro privilegiado. Para livrar Collor da cadeia, o Supremo precisaria agora desfazer a si mesmo.

Por uma artimanha do destino, Collor chega à prisão num instante em que fervilha na Câmara o debate sobre o projeto da anistia para o golpismo. Bolsonaro é um prepotente às voltas com uma impotência que retarda a votação da proposta. A longa impunidade, interrompida tardiamente, fez de Collor um mau exemplo. Mas ele também se tornou um bom aviso. A reincidência revela o tamanho do fantasma que se esconde embaixo do lençol da anistia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

3 comentários

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Steferson Lima

Só uma correção, Josias, me diga se eu estou errado: a anulação da sentença de Lula, não foi só por PARCIALIDADE de Moro, foi POR AUSÊNCIA DE PROVAS MATERIAIS. Se você não concorda, faça uma coluna com as páginas do processo anulado, onde constem as provas, ok? Se você fizer essa coluna, mostrando as provas materiais contra Lula, você me ganha pra sempre. Porque não basta ter CONVICÇÃO do ilícito, tem de ter provas, infelizmente ou felizmente, né não?

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Leandro Cardoso Ferreira

Não entendi a relação que o jornalista pretende estabelecer entre o projeto de anistia e a prisão de Collor. O que chama a atenção na prisão do ex-presidente não é o caso em si, pois tudo indica que ele praticou os atos de corrupção pelos quais foi condenado, mas o fato de ser ele o único entre centenas a ter sua condenação mantida pelo Supremo. Se o STF pretende passar a mensagem que ainda está preocupado  em combater a corrupção, falhou miseravelmente; a impressão que passa é de que só condena se o acusado estiver do "lado errado" do espectro político. Collor deve estar hoje repetindo o antigo bordão de Jô Soares: "Só eu? E os outros?".

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