Sargento da PM era segurança de braço financeiro do PCC, diz investigação
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O sargento da Polícia Militar Farani Salvador Freitas Rocha Júnior, 36, investigado pela morte de Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, um dos grandes narcotraficantes do Primeiro Comando da Capital, era o segurança do maior braço financeiro do PCC, desarticulado esta semana durante a Operação Rei do Crime, da Polícia Federal.
Cabelo Duro foi morto a tiros em 23 de fevereiro de 2018 no Tatuapé, zona leste da Capital, uma semana após assassinar Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, dois homens da alta cúpula do PCC. O duplo homicídio aconteceu na aldeia indígena de Aquiráz, região metropolitana de Fortaleza, no Ceará.
Para o advogado Eduardo Kuntz, defensor de Farani, seu cliente é inocente, não tem envolvimento com o crime organizado e isso será provado no processo. "Com relação à morte de Cabelo Duro, o sargento Farani está aguardando a chegada do material genético fornecido à Justiça. O resultado vai tirar ele, por completo, da cena dos fatos e, com isso, aguarda-se, igualmente, a retirada desta falsa acusação", diz.
Os indícios da ligação do sargento com o PCC aumentaram na última quinta-feira (30/9), quando a Polícia Federal deflagrou a Operação Rei do Crime e desarticulou o principal braço financeiro da organização criminosa, responsável pela lavagem de dinheiro do grupo. Treze pessoas acabaram presas e foram bloqueados R$ 730 milhões em contas bancárias.
Um dos 13 acusados pela PF com prisão preventiva decretada é Leandro de Souza Afonso, dono de postos de combustíveis. Farani trabalhou para ele por três anos, até ser preso pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) sob a acusação de ter mandado matar o cabo Wanderley Oliveira de Almeida Júnior, 38, em Itaquera, zona leste, em fevereiro deste ano.
O cabo tinha em mãos um dossiê contra o sargento e iria denunciar Farani aos seus superiores por envolvimento com traficantes de drogas do PCC na região de Cangaíba, zona leste. Por isso acabou morto a tiros.
Farani foi preso em 1º de junho. Nove dias depois, em depoimento prestado no Presídio Militar Romão Gomes ao delegado Vagner da Cunha Alves, do DHPP, sobre a morte de Wanderley, o sargento disse que fazia bico para Leandro em um posto de gasolina da rede MegaMais e recebia R$ 7 mil por mês. Afirmou que usava o Toyota Hilux do patrão.
Leandro foi ouvido pelo delegado Cunha em 23 de julho. O empresário confirmou que o sargento trabalhava para ele desde 2017 e era o responsável por transportar o dinheiro arrecadado no posto para agências bancárias. Acrescentou que o PM recebia os R$ 7.000,00 mensais em espécie e que, esporadicamente, também era o segurança dele.
A Operação Rei do Crime da PF apurou que o braço financeiro do PCC utilizou 78 empresas e movimentou R$ 30 bilhões em quatro anos. Segundo a PF, o núcleo de Leandro tinha postos de combustíveis em nome de "laranjas" e chegou a movimentar R$ 44 milhões.
Agentes federais descobriram que a mulher de Leandro fazia parte do esquema e tem ligações com os ladrões do PCC que furtaram R$ 164 milhões da agência do Banco Central de Fortaleza em agosto de 2005. Ela também teve a prisão preventiva decretada na Operação Rei do Crime.
Ainda segundo a PF, o líder do maior braço financeiro do PCC é José Carlos Gonçalves, o Alemão, um dos 13 presos. Ele é apontado como o homem que financiou Cabelo Duro na Baixada Santista, importante reduto do PCC por causa do tráfico de cocaína para a Europa via porto de Santos.
As apurações da PF concluíram que parte dos investigados na Operação Rei do Crime era ligada a Cabelo Duro e está diretamente envolvida nos assassinatos de Gegê do Mangue e de Paca.
O narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, foi denunciado pelo Ministério Público à Justiça do Ceará como mentor do crime e é réu. Segundo a PF, Fuminho é ligado a Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC.
A PF desarticulou o braço financeiro do PCC graças às delações do piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais, 33. Ele prestava serviços aéreos para a facção e transportou em uma aeronave, com Cabelo Duro a bordo, Gegê do Mangue e Paca para a morte até a aldeia de Aquiráz.
O DHPP, unidade de elite da Polícia Civil de São Paulo, havia encerrado o inquérito sobre a morte de Cabelo Duro sem chegar a uma autoria, mas reabriu as investigações porque surgiram fatos novos. Cinco aparelhos de telefone celular dele vão ser periciados. O departamento aponta Farani como um dos assassinos de Cabelo Duro.
Segundo o DHPP, imagens de câmeras de segurança que registraram o assassinato de Cabelo Duro mostram um atirador muito parecido com o sargento. Um dos projéteis disparados contra a vítima ricocheteou no asfalto e atingiu a perna de um dos assassinos. O DHPP apurou que o Farani sofreu ferimento semelhante.
Tanto a Polícia Federal como o DHPP vão investigar agora se Cabelo Duro foi morto a mando da sintonia final do PCC como queima de arquivo e se o sargento Farani realmente foi um dos autores do crime.
O sargento Farani era lotado no 4º Baep (Batalhão de Operações Especiais), na zona leste. Ele também atuou na Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), tropa de elite da PM.
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