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Mafioso italiano preso no Brasil dava caixinha de R$ 100 em flat na Paraíba
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Calmo, gentil, simpático, sorridente e "mão aberta". Era assim que se comportava o mafioso italiano Rocco Morabito, 54, um dos narcotraficantes mais procurados do mundo, no flat Ecco Summer, na praia de Tambaú, em João Pessoa.
Rocco Morabito, condenado a 103 anos e procurado desde 1995 na Itália foi capturado por 12 policiais federais do Brasil por volta das 14h30 de segunda-feira (24) em um quarto no 3º andar, onde outro mafioso, Vincenzo Pasquino, 30, também acabou preso.
O hotel é famoso e fica numa das praias mais badaladas da capital da Paraíba.
Os dois italianos presos são acusados de integrar a máfia calabresa 'Ndrangheta. Segundo um funcionário do flat, Morabito não resistiu à prisão, e Pasquino tentou fugir pulando pela varanda, mas foi dominado. Um terceiro homem, baixo, forte, branco, com cabelos lisos e olhos castanhos, escapou. A PF não confirmou essa informação.
No quarto com os italianos também estava um corretor de imóveis identificado como Anselmo. Foi ele quem alugou os quartos para os mafiosos. Morabito morava sozinho no 3º andar e, de acordo com o funcionário do flat, Pasquino e o terceiro se hospedaram juntos no 4º andar.
O corretor de imóveis passou mal quando os agentes federais chegaram. Ele não teria conhecimento de que os italianos eram criminosos procurados. A coluna apurou que ele prestou depoimento à PF e depois foi liberado.
Morabito era "educado e atencioso"
O mesmo funcionário contou que Morabito era muito educado, atencioso, passava a maior parte do tempo no quarto e nas poucas vezes que saía, caminhava até a praia de manhã, tomava sol, mas voltava rápido. O italiano não costumava ir em restaurante e usava o serviço de entrega de comidas do iFood.
Morabito estava hospedado no flat desde o último dia 25 de abril. O corretor de imóveis pagou adiantado o aluguel do quarto por um mês, pelo valor de R$ 4 mil. É comum corretor de imóveis alugar quartos para hóspedes, apurou a coluna.
De acordo com funcionários do flat, Morabito falava bem o português e era um "mão aberta", pois sempre dava caixinha de até R$ 100 para o pessoal responsável pela limpeza. Era reservado, não ostentava nada de ouro e era considerado um homem simples pela equipe do flat.
Mafioso tem quatro condenações
Documentos da Interpol (Polícia Internacional), aos quais o UOL teve acesso, mostram que Morabito tinha quatro condenações na Itália, sendo duas de 22 anos, uma de 30 anos e outra de 29 anos. Segundo a documentação da Interpol, as penas foram unificadas em 30 anos.
Contra Morabito havia um mandado de prisão expedido em 13 de agosto de 2008 e outro em 8 de julho de 2013. As condenações ocorreram pelas Cortes de Apelação da Calábria, em 10 de junho de 2005; Milão, em 5 de julho de 2001; Palermo, em 11 de março de 2000; e Milão, em 30 de abril de 1999.
O Escritório Central da Interpol em Roma incluiu o nome dele na difusão vermelha em 21 de junho de 1995. Segundo a polícia italiana, entre de 1988 e 1994 a função de Morabito na máfia era organizar as importações de centenas de quilos de cocaína da América do Sul para distribuição na Itália.
Morabito e comparsas montaram um escritório no Itaim Bibi, zona sul paulistana. Faziam parte do grupo o sobrinho dele, Francesco Sculli, e o jordaniano Waleed Issa Khmayis, que já passou pela Casa de Detenção, no Carandiru, e atualmente está preso na Turquia. O bando tentou enviar 600 kg de cocaína para a Europa pelo porto de Fortaleza (CE), em julho de 1992.
Em 2017, o mafioso, conhecido como "Rei da cocaína de Milão", foi capturado no Uruguai, mas fugiu da prisão dois anos depois. As suspeitas são de que ele estava escondido no Brasil desde 2019 e que já havia passado por São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Paraíba. Morabito foi transferido ontem para Brasília.
Comparsa tem ligação com o PCC
Preso junto com Morabito, Vincenzo Pasquino, um dos 30 foragidos mais procurados pela polícia italiana, tinha contra ele um mandado de prisão expedido em 7 de outubro de 2019 pela Corte de Turim, sua cidade natal. A última atualização da inclusão do nome dele na difusão vermelha da Interpol foi feita no dia 21 deste mês.
Já a última movimentação do nome de Pasquino no sistema de controle migratório da PF no Brasil foi registrada em 10 de janeiro de 2018 e valia por 90 dias. A situação dele no país era ilegal.
Em 8 de julho de 2019, a PF prendeu em um prédio na Praia Grande (SP), Nicola Assisi e o filho dele, Patrick Assisi, ambos também da 'Ndrangheta. Agentes federais disseram que apreenderam na cobertura dos Assisi um passaporte em nome de Vincenzo Pasquino.
Segundo a PF, os Assisi, Rocco Morabito e Pasquino tinham envolvimento com o narcotraficante brasileiro André Oliveira Macedo, o André do Rap, ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital) e foragido da Justiça, e com outros criminosos da facção.
Os mafiosos vão ser extraditados para a Itália.
Ouça também o podcast Ficha Criminal, com as histórias dos criminosos que marcaram época no Brasil. Esse e outros podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts, no Spotify, Apple Podcasts, Google Podcasts e outras plataformas de áudio.
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