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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Abraço na filha faz sequestrador de Celso Daniel perder o regime semiaberto

O prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi assassinado em 2002 - Diário do Grande ABC
O prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), foi assassinado em 2002 Imagem: Diário do Grande ABC

Colunista do UOL

08/07/2021 10h42

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Um abraço na filha em um dia de visita em 20 de fevereiro deste ano na Penitenciária de Tupi Paulista (SP) custou caro para o preso Itamar Messias Silva dos Santos, 41, condenado pelo sequestro e assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT).

Era um sábado. Sabrina, 21, chegou ao presídio para visitar o pai após viajar por mais de 560 km. Ela passou por todos os procedimentos de revista e, por volta das 13h15, depois de ser liberada pelos agentes penitenciários para entrar na unidade, seguiu para o Pavilhão 7.

Assim que avistou Itamar, a moça correu para abraçá-lo. Funcionários advertiram o pai e a filha sobre a proibição do contato físico por causa da pandemia de covid-19. A diretoria da penitenciária foi avisada e entendeu que o preso e a visitante descumpriram as regras do distanciamento social.

O diretor técnico do presídio, Agnaldo Aparecido Braga, instaurou um procedimento disciplinar. O diretor de Divisão do Centro de Segurança e Disciplina, André Ricardo de Andrade, foi designado para apurar o caso e decidiu que Itamar cometeu falta de natureza grave.

A Justiça também considerou o ato de Itamar como falta grave e determinou a perda dos dias remidos - para cada três dias trabalhados, um dia é descontado da pena - e também a interrupção do cálculo de penas para fins de progressão de regime.

Itamar deveria progredir do regime fechado para o semiaberto em 7 de junho deste ano. Por causa do abraço na filha, o prisioneiro só terá o benefício em 13 de agosto de 2023. A previsão para o livramento condicional é em 7 de março de 2030 e o do término da pena em 6 de janeiro de 2036.

O UOL não conseguiu contato com a advogada do preso, Natália Helena de Souza, mas assim que conseguir falar com ela, publicará a versão da defesa de Itamar. Ao ser ouvido no procedimento disciplinar, o prisioneiro disse estar arrependido e disposto a arcar com as consequências de seu ato.

Reviravolta

Celso Daniel foi sequestrado em 18 de janeiro de 2002 após sair de um jantar. Ele estava em uma Mitsubishi Pajero dirigida pelo empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, quando foi arrebatado na rua Antonio Bezerra, Vila Vera, zona sul paulistana.

Além de Itamar, outras cinco pessoas foram, a princípio, acusadas de envolvimento no sequestro e assassinato de Celso Daniel. As investigações da Polícia Civil concluíram que o prefeito havia sido sequestrado aleatoriamente e morto por confusão nas ordens do chefe da quadrilha.

Mas a família do prefeito, inconformada, solicitou ao MPE (Ministério Público Estadual) a reabertura das investigações por entender que Celso Daniel havia sido vítima de crime político. As novas apurações apontaram que a morte do prefeito foi premeditada e o caso teve uma reviravolta.

Sombra foi apontado como mandante do crime. Segundo o MPE, as contradições entre as declarações prestadas por ele e também as perícias realizadas pela Polícia Científica lançaram uma série de suspeitas contra o empresário.

Ele havia dito que houve problema nas travas elétricas do veículo e, por isso, os sequestradores conseguiram abrir o carro e arrebatar o prefeito. Afirmou ainda que teve tiroteio com os criminosos e que a Pajero depois não pegou (o motor morreu). As perícias desmentiram todas as alegações.

Celso Daniel foi levado para um cativeiro na favela Pantanal, em Diadema, e foi encontrado morto dois dias depois na Estrada das Cachoeiras, em Juquitiba, na Grande São Paulo.

O corpo tinha sinais de tortura e marcas de 11 tiros.

O prefeito era o coordenador da pré-campanha de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. Para o MPE, Sombra fazia parte de um esquema de corrupção na Prefeitura de Santo André e recebia propina de empresas de transportes. Segundo o MPE, o prefeito descobriu a fraude e por isso foi morto.

Itamar recebeu uma pena de 17 anos pelo crime, mas tinha outras condenações. Os outros cinco comparsas dele também foram condenados. A sentença para Ivan Rodrigues da Silva, 46, apelidado de Monstro e apontado pelo MPE como o líder da quadrilha, foi de 24 anos.

Ivan está preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau e vem lutando na Justiça para obter o benefício da prisão domiciliar, alegando ser do grupo de risco para covid-19 por ter pressão alta e problemas pulmonares. Até agora, todos os pedidos dele foram indeferidos.

Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, foi denunciado por homicídio doloso triplamente qualificado. O MPE o acusou de ser o mandante do crime, de ter contratado os assassinos e de ter impedido a defesa da vítima. Ele respondia ao processo em liberdade e não foi julgado porque morreu em 27 de setembro de 2016.