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Delegado Da Cunha contratou até um cineasta para gravar operações policiais
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O delegado da Polícia Civil Carlos Alberto da Cunha, 43, contratou até roteirista de cinema para gravar, editar e divulgar imagens de vídeos de operações policiais oficiais comandadas por ele em seu canal "Delegado da Cunha" na plataforma do Youtube.
Da Cunha foi indiciado pela Corregedoria da Polícia Civil no último dia 23 por suspeita de crime de peculato, quando um funcionário público desvia dinheiro ou bens em benefício próprio ou de terceiros, em razão do cargo que ocupa. A pena varia de 2 a 12 anos de prisão, além de multa.
Um inquérito policial foi instaurado em agosto deste ano para apurar se Da Cunha usou a estrutura da Polícia Civil, como armas, homens, viaturas e aeronave, para gravar vídeos de operações policiais exibidas em redes sociais. O canal dele no Youtube chegou a ter 3,6 milhões de inscritos.
Ele também é alvo de apuração preliminar por suspeita de ter simulado — e gravado em vídeo — o resgate de um refém e a prisão de um sequestrador na zona leste em julho de 2020. As suspeitas de encenação e o indiciamento de Da Cunha foram divulgados em primeira mão pelo repórter Rogério Pagnan, da Folha de S.Paulo.
Ouvido pela coluna na tarde de ontem, Da Cunha disse que está tranquilo e que as acusações contra ele são absurdas. O delegado admitiu ter contratado o roteirista James Jay Maas Salinas, 34, para divulgar o trabalho policial no canal dele no Youtube, mas afirmou que não monetizou os vídeos.
O cineasta James Salinas foi ouvido em 11 de agosto pelo delegado Marquel de Araújo, da Divisão de Apurações Preliminares da Corregedoria Geral da Polícia Civil.
Delegado baleado
Salinas contou que trabalhava havia quatro anos na gravação de filmagens para o curso de tiro "Projeto Policial", do delegado Paulo Bilynskyj, 34, quando conheceu Da Cunha. Segundo o cineasta, foi Bilynskyj quem o apresentou para Da Cunha.
A coluna não conseguiu o contato do delegado Paulo Bilynskyj nem do advogado dele.
Em 20 de maio de 2020, Bilynskyj foi baleado seis vezes em seu apartamento em São Bernardo do Campo (SP). Ele namorava a modelo Priscila Delgado Barrios, 27. Para a Polícia Civil, ela atirou nele — que sobreviveu ao ataque — e depois cometeu suicídio com tiro no peito. O motivo seria ciúme.
No depoimento à Corregedoria, Salinas afirmou que começou a trabalhar para Da Cunha em fevereiro de 2020. O cineasta confirmou que participou das gravações da operação para prender Wislan Ramos Ferreira, 31, o Jagunço.
A prisão aconteceu em 30 de abril de 2020, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. À época, Da Cunha afirmou em entrevista coletiva que Jagunço era chefe do "tribunal do crime" do PCC (Primeiro Comando da Capital) e responsável pelas mortes de ao menos cem rivais da facção criminosa.
O roteirista disse que gravou a operação policial em três etapas. A primeira foi um dia antes da prisão, no estacionamento da 8ª Delegacia Seccional (São Mateus, Zona Leste). A segunda etapa foi filmada pouco antes da prisão, quando da Cunha deu as últimas instruções à equipe em um posto de combustíveis em Poá (SP).
A terceira etapa foi gravada no momento da prisão na casa de Jagunço. A operação foi divulgada em três partes no canal do delegado Da Cunha no Youtube, como se fosse uma série, conforme reportagem publicada pelo site de notícias Ponte Jornalismo, na edição de 4 de maio de 2020.
James Salinas também disse à Corregedoria que emprestava câmeras Go Pro para a equipe de Da Cunha auxiliar os trabalhos de gravação. Ele revelou que o equipamento era acoplado às roupas dos policiais. O cineasta declarou ainda que deixou de trabalhar para Da Cunha em 27 de julho de 2021.
A coluna telefonou ontem para o cineasta e roteirista James Salinas e também deixou recado no WhatsApp dele. Porém, ele não respondeu até a publicação deste texto.
Defesa técnica
O delegado Da Cunha disse que começou a gravar operações policiais em 2013 para divulgar o trabalho da Polícia Civil e que no início pagava do bolso dele até R$ 5 mil para cinegrafista contratado.
Da Cunha admitiu ter contratado Salinas e que pagava uma ajuda de custo mensal de R$ 3 mil para ele. O delegado acrescentou que chegou a trabalhar com outro cinegrafista, conhecido como "Cabelo". O policial civil ressaltou que sempre pagou os profissionais com o dinheiro dele.
Ele contou que jamais monetizou os vídeos das operações policiais em seu canal no Youtube e que se tivesse feito isso teria lucrado US$ 500 mil. O delegado disse ainda que em apenas três ocasiões monetizou vídeos em podcast, mas não de operações policiais, e ganhou R$ 200 mil.
Licenciado do cargo desde agosto deste ano, Da Cunha prometeu divulgar em vídeo, às 18h desta segunda-feira, a defesa técnica dele, ponto a ponto. E também prometeu fazer uma retratação ao delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes.
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