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Homicídio de Cabo Bruno, maior matador da PM de SP, segue impune há 9 anos
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Pessoas com tatuagens eram o principal alvo do temido Florisvaldo de Oliveira, 53, mais conhecido como Cabo Bruno, um dos maiores matadores da história da Polícia Militar de São Paulo, acusado de cometer ao menos 50 assassinatos nos anos 1980.
Investigações da Polícia Civil apontaram que ele recebia dinheiro de comerciantes da zona sul de São Paulo para "limpar a área", ou seja, exterminar criminosos. Às vezes usava um Chevrolet Opala preto para perseguir suas vítimas, e outras, um Maverick possante de seis cilindros.
Cabo Bruno ingressou na PM em plena ditadura militar. Ele aprendeu com superiores, no início da década de 1980, no período da repressão, que tatuagem era sinônimo de bandidagem. Foi pensando assim que matou um jovem na zona sul de São Paulo. O rapaz tinha uma cruz tatuada no pulso.
Por esse e outros crimes, o matador de aluguel, contratado por donos de comércio cansados dos assaltos, foi condenado a 117 anos pelos assassinatos. A primeira prisão aconteceu em 1983. Ele foi levado para o presídio militar Romão Gomes, na Água Fria, zona norte paulistana.
Na ficha criminal dele constam quatro fugas. Em 1991 foi recapturado pela quarta e última vez e, como castigo, as autoridades o transferiram para a Casa de Custódia e Tratamento do Taubaté, Vale do Paraíba, berço do PCC (Primeiro Comando da Capital), fundado naquela unidade em 31 de agosto de 1993.
Expulso da Polícia Militar por causa da série de crimes cometidos, o assassino colecionou inimigos nas ruas e nas prisões.
A vingança contra ele veio em 26 de setembro de 2012 na cidade de Pindamonhangaba, também no Vale do Paraíba.
Emboscada na frente de casa
Cabo Bruno virou evangélico na Penitenciária 2 de Tremembé, perto de Taubaté. Lá se tornou pastor. Amargurou 27 anos atrás das grades. Foi solto em agosto de 2012, mas não chegou a aproveitar como sonhava os 34 dias de liberdade.
Ele voltava de um culto em Aparecida com a mulher Dayse França - pastora da Igreja Refúgio em Cristo -, o enteado e o genro. No final da noite de 26 de setembro, o ex-policial militar foi emboscado do mesmo modo como atacou suas dezenas de vítimas.
Dois homens armados com pistolas calibres 45 e 380 o aguardavam nas imediações da casa dele, na rua Álvaro Leme Celidônio, bairro Quadra Coberta. Assim que avistaram Cabo Bruno, os assassinos se aproximaram do alvo e descarregaram as armas.
O ex-PM levou 20 tiros e morreu na hora.
Inquérito policial arquivado
O delegado Vicente Lourenço Lagioto Júnior foi designado pela Polícia Civil para presidir o inquérito do caso. Ele contou à coluna que já se aposentou e que até quando conduziu as investigações - cuja data disse não se recordar - os autores do crime não tinham sido identificados.
A reportagem mandou e-mail para a Polícia Civil, questionando se o assassinato havia sido esclarecido e se alguém foi indiciado preso e julgado. Até a conclusão deste texto, a instituição não tinha retornado e, se houver um posicionamento, a nota será publicada.
Em Pindamonhangaba, policiais que pediram anonimato disseram à coluna que o inquérito foi relatado e arquivado e que o crime continua impune. As primeiras suspeitas dos investigadores eram de que o PCC estava por trás do assassinato de Cabo Bruno.
O ex-PM era tido por integrantes da maior facção criminosa do País como "justiceiro". Os faccionados o consideravam inimigo mortal. Afinal, Cabo Bruno, chegou a dizer várias vezes que matava por uma simples razão: "odiava bandidos".
O Vale do Paraíba, região onde o matador de aluguel cumpriu pena pela última vez, era um dos mais fortes redutos do PCC. Só na cidade de Tremembé existem duas penitenciárias masculinas de regime fechado, um CDP (Centro de Detenção Provisória) e um CPP (Centro de Progressão Penitenciária), além de dois presídios femininos.
No CPP, unidade de regime semiaberto, a maioria dos presos integra o Primeiro Comando da Capital. Muitos saem durante o dia para trabalhar e voltam à noite. A prisão fica ao lado da P-2 de Tremembé, onde Cabo Bruno passou os últimos dias de sua vida, até sair em liberdade, e ouviu muitas provocações dos rivais, além de incontáveis ameaças de morte.
As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.
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