Investigador condenado por ajudar Cara Preta era inimigo de delator do PCC
Em uma das mensagens enviadas por WhatsApp a Antônio Vinícius Lopes Gritzbach, 38, um investigador do 24º DP (Ermelino Matarazzo) disse que o amava. O delator do PCC (Primeiro Comando da Capital) e de policiais civis corruptos foi assassinado no último dia 8 no aeroporto internacional de Guarulhos.
O delator o tratava como inimigo e revelou em entrevista exclusiva ao repórter e apresentador Roberto Cabrini, da TV Record, sem citar nomes, que o policial queria matá-lo. Gritzbach o apontou como suspeito de ser o autor do atentado que sofreu no Natal de 2023, no prédio onde morava, no Tatuapé, zona leste paulistana.
O investigador foi condenado no último dia 29 pela Justiça de São Paulo a quatro meses de prisão em regime aberto pelo delito de advocacia administrativa (patrocinar direta ou indiretamente, interesse privado, valendo-se da qualidade de funcionário público).
Ele foi acusado de ajudar o narcotraficante Anselmo Becheli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, a tirar a segunda via da carteira de identidade falsa em um posto do IIRGD (Instituto de Identificação Ricardo Gumbleton Daunt) em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, em abril de 2021.
Cara Preta usou o nome de Eduardo Camargo de Oliveira e usou o documento falso para adquirir uma das maiores empresas de ônibus da zona leste de São Paulo, a UPBus, alvo de investigação do Ministério Público por manter vínculo com o PCC.
O narcotraficante tinha grande influência no PCC e era amigo do investigador. Cara Preta foi morto a tiros em dezembro de 2021, no Tatuapé, junto com o motorista Antônio Corona Neto, 33, o Sem Sangue. Gritzbach foi acusado e processado como o mandante do duplo homicídio.
Tentativa de assassinato no Natal
No Natal de 2023, Gritzbach estava em seu luxuoso apartamento no Jardim Anália Franco, região do Tatuapé, quando foi até a janela fazer uma foto da lua. Naquele momento vários tiros foram disparados de um prédio vizinho na direção dele. Estilhaços feriram o ombro do delator do PCC.
Equipes da Polícia Civil foram ao local investigar o caso e percorreram edifícios vizinhos para tentar descobrir de onde partiram os tiros. Em um dos prédios, os agentes conseguiram imagens de um sniper (franco-atirador) carregando uma bolsa contendo uma arma de longo alcance.
Oficialmente, a Polícia Civil ainda não identificou o sniper, mas pessoas próximas a Gritzbach contam que o empresário chegou a apontar o investigador do 24º DP como o principal suspeito de ser o autor do atentado contra ele. O delator também repetiu isso ao repórter Roberto Cabrini.
O empresário citou até trechos de uma mensagem enviada pelo investigador para o WhatsApp na qual o policial comunica que "está em outro número para evitar fofocas". No mesmo trecho ele acrescenta: "Olhe em meus olhos e creia ainda te amo do mesmo jeito".
Dois dias após a Justiça anunciar a condenação do agente do 24º DP, o empresário foi à Corregedoria da Polícia Civil e delatou policiais de São Paulo por supostos casos de corrupção e extorsão. Alguns deles foram afastados de suas funções.
A defesa do investigador condenado disse à reportagem que o cliente não participou da expedição da carteira de identidade falsificada em nome de Eduardo Camargo de Oliveira, expedida em Taboão da Serra. Segundo o advogado, ele participou da segunda via do documento verdadeiro, em nome de Anselmo Becheli Santa Fausta "e, portanto, é inocente de todas as acusações".
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Quero receberO advogado afirmou ainda que, embora a pena de quatro meses já tenha sido prescrita, ele vai recorrer da decisão. Em relação ao suposto envolvimento do investigador no atentado a tiros ao prédio de Gritzbach, ele acrescentou que "o cliente nega veemente a participação no episódio".
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