Topo

Josmar Jozino

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Expansão do PCC na região Norte do Brasil preocupa as forças de segurança

Colunista do UOL

02/11/2021 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Uma denúncia do Ministério Público Estadual oferecida à Justiça em outubro deste ano contra 25 integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital) em Roraima traduz o crescimento da facção criminosa paulista na região Norte do Brasil.

O estado de Roraima é considerado importante rota do tráfico de drogas procedentes da Venezuela e da Guiana. É justamente por esse motivo que o PCC tem interesse em se fortalecer no local e há oito anos tenta impor sua hegemonia naquele território.

A expansão do PCC em Roraima preocupa as autoridades locais. As forças de segurança deflagraram várias operações policiais na tentativa de desarticular a organização criminosa dentro e fora das prisões estaduais. Mas segundo o MP, o grupo sempre consegue se reestruturar.

O promotor de Justiça Carlos Alberto Melotto observa na denúncia que, apesar do intenso combate à facção criminosa, o PCC age como um "verdadeiro regime de franquia" e substitui os integrantes presos recrutando novos membros nas ruas.

Na denúncia de 145 páginas Melotto descreve que a atuação do PCC em Roraima começou em 2013 no sistema prisional. Os detentos formaram uma associação com o PCM (Primeiro Comando da Maioria), composto pelos presidiários mais antigos.

No início, a facção atuava exclusivamente dentro dos presídios do estado. Porém, os presos do PCM passaram a implantar a ideologia do PCC em Roraima e as sementes da facção paulista se espalharam também para as ruas.

No ano seguinte as forças de segurança começaram a deflagrar várias operações. Em 2014 foram presos 91 integrantes do PCC no estado. Ao menos 15 foram transferidos para presídios federais. De novembro de 2018 até agosto de 2020 ocorreram mais cinco operações, com 119 prisões.

"Disk Entrega"

Segundo a denúncia do promotor Melotto, o Estado conseguiu reassumir o controle dos presídios dominados pelo PCC, especialmente na PAMC (Penitenciária Agrícola de Monte Cristo), mas as atividades policiais não foram suficientes para sufocar a ação externa do grupo criminoso.

A facção paulista se organizou nas ruas e se estruturou em 18 regionais do estado, sendo cinco delas em Boa Vista, na capital. O PCC passou a ter controle sobre o tráfico de drogas e também sobre o armazenamento de armas e munição. Criou até o "disk entrega" para levar drogas aos usuários.

Outro fator que surpreendeu o Ministério Público foi a atuação cada vez maior das mulheres no PCC em Roraima. A organização implantou o "setor feminino". Essa célula passou a ganhar força no estado e também o reconhecimento e apoio das lideranças criminosas.

Ainda de acordo com a denúncia, o PCC enviou um emissário de São Paulo para fortalecer as lideranças em Roraima e fomentar ações violentas, como atentados contra autoridades do Poder Judiciário, do sistema prisional e agentes públicos das forças de segurança.

Coordenar atentados

O emissário foi identificado como Jardel Neto Pereira da Cruz, conhecido como Dedel. Ele foi preso em flagrante em 7 de junho de 2021 por tráfico de drogas. A missão dele, cobrada pelo PCC em São Paulo, era coordenar os assassinatos de um diretor de presídio e provavelmente de um juiz.

O Ministério Público de Roraima apurou que Jardel Neto era o braço forte do PCC no estado, sendo o responsável pelo comércio de armas e drogas para a organização, exercendo ainda a função de conselheiro do "tribunal do crime" do grupo. Ele tem tatuado no corpo o "yin yang", símbolo da facção.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa de Jardel Neto. Em depoimento à polícia, o criminoso disse que não é batizado no Primeiro Comando da Capital. Acrescentou que apenas fornecia apoio à liderança regional da facção e que estava em Roraima havia 10 meses.

Dos 25 denunciados pelo Ministério Público de Roraima, 21 estão presos. Todos devem responder a processo por associação à organização criminosa. A pena prevista é de três anos a oito anos de reclusão e pode aumentar se houver emprego de arma de fogo.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.