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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PCC já atinge o status de organização mafiosa, diz promotor de Justiça

Helicópteros do PCC apreendidos na operação Além-Mar, em agosto de 2020. Facção criminosa já operou frota superior à das forças de segurança paulistas - Divulgação
Helicópteros do PCC apreendidos na operação Além-Mar, em agosto de 2020. Facção criminosa já operou frota superior à das forças de segurança paulistas Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

16/03/2022 04h00

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O PCC (Primeiro Comando da Capital) já atingiu o status de máfia, afirmou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya em entrevista ao repórter Lucas Martins, exibida nesta terça-feira (15) no programa Brasil Urgente, da Band.

Segundo Gakiya, o que faltava para o PCC se tornar uma organização mafiosa era a lavagem de dinheiro no exterior, o que já vem acontecendo. Somente em São Paulo, existem vários processos contra integrantes do grupo envolvidos na atividade.

Em processos que tramitam na 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital, ao menos 20 réus são acusados de movimentar R$ 1,2 bilhão do PCC no período de janeiro de 2018 a julho de 2019.

As investigações apontaram que o grupo criminoso mantinha casas-cofres para esconder o dinheiro --arrecadado com o tráfico internacional de drogas-- e também veículos com compartimentos secretos usados para transportar quantias milionárias aos doleiros contratados pela organização.

Na Justiça Federal também estão em andamento processos contra um braço financeiro do PCC acusado de ter movimentado R$ 32 bilhões em quatro anos. Investigações da Polícia Federal e da Polícia Civil de São Paulo chegaram aos nomes dos mesmos doleiros envolvidos na lavagem de dinheiro.

Agentes da Polícia Federal apuraram que o braço financeiro do PCC montou 78 empresas de fachada em várias regiões do país, mantinha o próprio banco do crime e utilizava até transportadora de valores para entregar e receber dinheiro.

Planilhas apreendidas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado), órgão subordinado ao Ministério Público do Estado de São Paulo, mostram que apenas no primeiro semestre de 2018, a entrada e saída de dinheiro do caixa do PCC atingiu o montante de R$ 140 milhões.

De acordo com o Gaeco e a Polícia Federal, além de empresas de fachada, o PCC lava capitais adquirindo --em nome de laranjas-- aeronaves, imóveis de luxo, coberturas em balneários, veículos importados e investindo o dinheiro em postos de combustíveis e em criptomoedas.

As investigações apontam ainda que, no Brasil, o PCC tem ligações com máfias estrangeiras, é o maior exportador de drogas para a Europa e envia por mês ao menos uma tonelada de cocaína para Espanha, Portugal, França, Itália, Alemanha e Holanda por vários portos do país, principalmente o de Santos.

Fundado em 31 de agosto de 1993 no sistema prisional paulista, o PCC tem raízes em todo o Brasil e no exterior. Em pouco mais de duas décadas de existência, a organização expandiu os negócios ilícitos, especialmente o tráfico de drogas, e passou a ser considerada um cartel por especialistas em segurança pública. Hoje já atingiu o patamar de máfia, diz Lincoln Gakiya.

A máfia não perdoa

Assim como toda organização mafiosa, o PCC não perdoa os integrantes acusados de desviar dinheiro da organização. Desde fevereiro de 2018, quando Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, foram assassinados, o grupo vive uma guerra interna.

Ambos eram da alta cúpula do PCC e foram mortos a tiros na região metropolitana de Fortaleza. Para alguns integrantes do grupo, Gegê do Mangue e Paca acabaram assassinados porque desviaram dinheiro da organização.

O narcotraficante Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro, acusado de planejar os assassinatos de Gegê do Mangue e Paca, morreu uma semana depois deles. Ele foi morto com tiros de fuzil no Tatuapé, na zona leste paulistana.

Em março de 2021, Nadim Georges Hanna Awad Neto, 42, apontado pelo Gaeco como o número 2 do PCC nas ruas, abaixo apenas de Marcos Roberto de Almeida, 51, o Tuta, foragido da Justiça, foi sequestrado e encontra-se desaparecido. Ele também foi acusado de desviar dinheiro do grupo e até para a própria família já é tido como morto.

O mesmo fim teve Gilberto Flares Lopes Pontes, 39, o Tobé. Ele era um dos 20 réus acusados de movimentar R$ 1,2 bilhão do PCC no período de janeiro de 2018 a 2019.

Contra Tobé havia um mandado de prisão preventiva expedido em setembro de 2020 pela 1ª Vara de Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores da Capital.

Ele também foi sequestrado pelo PCC e acusado de desviar dinheiro da organização. O corpo de Tobé foi encontrado no final de agosto do ano passado em um cemitério clandestino em São Bernardo do Campo, no ABC.