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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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PCC abastece 'biqueiras' até em cidades com menos de 1.500 habitantes em SP

Facas e drogas apreendidas em Uru, no interior paulista - Divulgação Polícia Civil
Facas e drogas apreendidas em Uru, no interior paulista Imagem: Divulgação Polícia Civil

Colunista do UOL

11/03/2022 04h00Atualizada em 14/06/2023 12h40

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Não há um lugar no estado de São Paulo onde não exista ao menos uma "biqueira" (ponto de venda de drogas) abastecida pelo PCC (Primeiro Comando da Capital). Elas funcionam em todas as partes. Até mesmo nos menores municípios, com população inferior a 1.500 habitantes.

É o caso de Uru, a pequena cidade a 417 km de São Paulo encravada no centro-oeste do estado, cuja população foi estimada em 1.142 pessoas, em 2021, pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas). O município é vizinho a Pongaí, Reginópolis, Borborema e Pirajuí.

No site de estatísticas da Secretaria de Estado da Segurança Pública, constam nos dados referentes à produtividade policial que foram registradas três ocorrências de tráfico de drogas no município em janeiro de 2022.

Outro flagrante em Uru foi registrado em 16 de março de 2019. Uma mulher de 38 anos à época foi surpreendida por policiais militares vendendo dois papelotes de cocaína para um usuário por R$ 50. Na casa dela foram encontrados mais 20 g da droga.

A mulher foi condenada a 5 anos e 10 meses de prisão, mas teve problemas nos rins e nos pulmões e morreu em 24 de fevereiro do ano passado. Em 2015, policiais já haviam encontrado no sítio dela e do namorado, em Uru, meio quilo de maconha e 20 porções de cocaína.

Policiais civis investigavam denúncias de tráfico de drogas envolvendo o PCC. No muro da residência do casal tinha a inscrição com as siglas da maior facção criminosa do país.

O namorado acabou condenado a sete anos e 9 meses em regime fechado. A mulher foi considerada usuária de drogas e, por determinação judicial, teve de prestar serviços comunitários na região durante 10 meses.

Na rua da delegacia

Em 17 de novembro de 2017, uma equipe da Força Tática prendeu um homem vendendo maconha na rua onde fica a delegacia de Uru. O Copom (Centro de Operações da Polícia Militar) recebeu várias denúncias contra o acusado.

Assim que viu a aproximação dos militares, o traficante correu para a casa dele. No imóvel, os PMs localizaram 3 kg de maconha, uma balança de precisão para pesar a droga, além de quatro facas e dois aparelhos de telefone celular.

O PCC também abasteceu "biqueiras" em Flora Rica, município situado a 620 km da capital paulista, na região oeste do estado. Segundo o IBGE, a população da cidade era de 1.397 habitantes em 2021.

Eram 17h30 de 29 de março de 2019 quando policiais militares faziam o patrulhamento preventivo no bairro Sítio Baixa Verde. Os PMs haviam recebido denúncias de tráfico de drogas na região envolvendo um manobrista de 38 anos e um rapaz de 24 anos.

Os militares foram a um bar no bairro e encontraram embalagens de plástico vazias usadas para armazenar cocaína. Um funcionário do estabelecimento admitiu ser usuário e contou que havia comprado 250 porções da droga e consumido tudo.

Ele revelou os nomes e os endereços dos responsáveis pela biqueira. Os dois acusados foram flagrados em uma casa onde havia 30 porções de cocaína. O manobrista foi condenado a 5 anos e 10 meses em regime fechado e o rapaz amigo dele a 5 anos.

O tráfico de drogas coordenado pelo PCC também rolava solto na pequena cidade de Santana da Ponte Pensa (613 km de São Paulo), na região noroeste do estado. No ano passado, a população era de 1.448 habitantes, de acordo com as estimativas do IBGE.

Em 1º de outubro de 2018, a Polícia Civil de Santana da Ponte Pensa instaurou um inquérito para apurar uma série de furtos na cidade. As investigações apontaram que os crimes eram cometidos por usuários de drogas que agiam na região para sustentar o vício.

Os viciados revelaram os nomes dos vendedores da droga. Os policiais chegaram a três suspeitos. Eles foram acusados de comprar a cocaína em Mato Grosso do Sul e de abastecer as "biqueiras" em Santana da Ponte Pensa e no vizinho município de Três Fronteiras (622 km da capital paulista).

Os três homens foram presos, julgados e condenados. Um deles recebeu uma pena de 4 anos e 8 meses em regime fechado e outro de 4 anos e um mês também em regime fechado. Para o terceiro a sentença aplicada foi de 3 anos em regime inicial aberto.

8 kg de drogas por hora

Os municípios de Uru, Flora Rica e Santana da Ponte Pensa estão entre os dez menores do estado de São Paulo. As "biqueiras" continuam funcionando em todas as cidades paulistas, apesar do número significativo de drogas apreendidas pela Polícia Militar.

O site da corporação informa que em janeiro deste ano policiais militares apreenderam 8,4 kg de drogas por hora no estado. Foram contabilizados 203,182 kg apreendidos por dia. De acordo com os números da Polícia Militar, no mês foram 6 toneladas.

Em dezembro do ano passado, os números das apreensões foram ainda mais surpreendentes. Os militares apreenderam 25,9 kg por hora; 623 kg por dia e 18,6 toneladas no mês inteiro.

Segundo o Ministério Público do Estado de São Paulo, o PCC detém o monopólio do tráfico de drogas em todo o território paulista e, portanto, todas as "biqueiras" são abastecidas pela facção criminosa.

As disputas por poder e dinheiro dentro da principal organização criminosa do Brasil são narradas na segunda temporada do documentário do "PCC - Primeiro Cartel da Capital", produzido por MOV, a produtora de documentários do UOL, e o núcleo investigativo do UOL.