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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Compadre de Marcola e sogro de Fuminho, narcotraficante morre na Argentina

Orlando Marques dos Santos, o Sarará, integrante do PCC - Reprodução
Orlando Marques dos Santos, o Sarará, integrante do PCC Imagem: Reprodução

e Eduardo Militão, colunista do UOL e do UOL, em Brasília

02/04/2022 13h21

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Orlando Marques dos Santos, 61, o Sarará, preso na Argentina e apontado pela Polícia Federal como um dos maiores narcotraficantes do Brasil, ligado ao PCC (Primeiro Comando da Capital), morreu no último dia 24 em um hospital em Buenos Aires (Argentina).

Sarará estava preso no Complexo Penitenciário de Ezeiza, na Grande Buenos Aires, e aguardava a extradição para o Brasil. Ele era foragido de um presídio de Franco da Rocha, na região metropolitana de São Paulo. Foi capturado pela Interpol (Polícia Internacional) em 18 de dezembro de 2019, no Hilton Hotel, na capital argentina, onde permanecia hospedado com a namorada boliviana.

Pessoas ligadas a Sarará contaram à reportagem que ele tinha problemas cardíacos e pulmonares e que no último dia 20 passou mal na prisão e foi levado para um hospital. Quatro dias depois, o preso sofreu uma parada cardiorrespiratória e não resistiu.

As fontes revelaram também que o corpo do narcotraficante ainda está em Buenos Aires e que não há previsão para o traslado ao Brasil. O processo de extradição do prisioneiro estava em mãos do juiz federal da Argentina, Sebastián Ramos.

Segundo a Polícia Civil de São Paulo, Sarará já cumpriu pena em um presídio no interior paulista com o compadre Marco Willians Herbas Camacho, 54, o Marcola, apontado pelo Ministério Público Estadual como o líder máximo do PCC.

O narcotraficante era sogro de Gilberto Aparecido dos Santos, 51, o Fuminho considerado o braço direito de Marcola. Ambos ainda não sabem sobre a morte de Sarará. O primeiro está isolado na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR) e o segundo na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).

Informações extraoficiais dão conta de que Fuminho será transferido para Porto Velho ainda este mês. Os dois parceiros não se veem desde 1999 quando escaparam da Casa de Detenção, no Carandiru, zona norte de São Paulo.

Marcola foi recapturado em julho do mesmo ano e Fuminho ficou foragido até 13 de abril de 2020. Ele foi preso em um hotel de luxo em Maputo, capital de Moçambique, pela polícia local com a colaboração de agentes da Polícia Federal do Brasil.

Tinha a chave da cela

Sarará também tem um histórico de fuga em sua ficha criminal. Quando esteve preso em Goiás, ele tinha a chave da cela e costumava deixar a unidade para ir a festas familiares e passear em seu avião particular. O prisioneiro costumava levar a bordo da aeronave o diretor do presídio.

De acordo com a Polícia Civil, no estado de São Paulo Sarará ficou recolhido também na Penitenciária de Araraquara, junto com Marcola. A facção criminosa chegou a desembolsar R$ 30 mil para pagar as despesas com o tratamento dentário do narcotraficante.

No início de 2014, Sarará foi beneficiado com o regime semiaberto e transferido para uma colônia penal em Franco da Rocha. Foi de lá que ele escapou em 6 de fevereiro daquele ano. A Polícia Federal apurou que o criminoso fugiu para a Bolívia, Peru, Paraguai e Argentina.

O compadre de Marcola conseguia driblar as autoridades daqueles países sempre usando documentos falsos. O serviço de inteligência da PF descobriu que Sarará tinha passado pela província de Chapare, na Bolívia, Salto de Guairá, no Paraguai, e depois pela Argentina.

Segundo a Polícia Federal, o narcotraficante havia ido à Argentina justamente para fazer exames médicos. Em 2015, naquele país, Sarará chegou a passar por uma cirurgia delicada do coração em um hospital italiano.

Em Buenos Aires, ele é proprietário de um apartamento no 33º andar de um dos edifícios da Torres Mulieris, um dos condomínios mais luxuosos de Puerto Madero. O residencial conta com piscinas externa e interna, sauna, vestiários e elevadores de alta velocidade.

No Brasil, Sarará é dono de veículos importados, imóveis de luxo, inclusive em Alphaville, na Grande São Paulo, além de aeronaves e uma fazenda com 3.500 cabeças de gado em Tocantins.

A pena de Sarará em território brasileiro somava 34 anos. O narcotraficante foi condenado por homicídio, tráfico de drogas, associação à organização criminosa e lavagem de dinheiro.