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Exército e Polícia Civil viram elo do PCC com empresas de ônibus em 2014
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Um relatório feito pelo Exército e pela Polícia Civil de São Paulo em 2014, para investigar denúncias de possíveis ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital) durante a Copa do Mundo de Futebol no Brasil, já indicava o envolvimento da facção criminosa com empresas de ônibus na capital paulista.
A reportagem teve acesso ao documento. O levantamento apontava à época a ligação de Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, um dos maiores fornecedores de drogas e armas para o PCC, com a Transcooper, uma cooperativa de transportes da cidade de São Paulo.
A documentação tem 40 páginas e traz também informações sobre diversos criminosos considerados integrantes do PCC. O relatório classifica Cara Preta como o grande distribuidor de drogas do PCC na zona leste, especialmente em Cidade Tiradentes, e com participação na Transcooper.
Em 2015, a Transcooper deu origem à Pêssego Transportes, sediada em Itaquera, zona leste paulistana. Dois homens encontrados mortos no dia 22 de maio deste ano no porta-malas de um carro em Embu das Artes, Grande São Paulo, tinham fortes ligações com a empresa. Ambos eram do PCC.
Tribunal do Crime
Gilmar Mendes dos Santos, 40, o Giba, e Anderson dos Santos Martins, o Dinho, 36, tinham ferimentos no pescoço. A Polícia Civil acredita que eles foram mortos a mando do "tribunal do crime" do PCC. Há suspeitas de que os dois desviaram R$ 500 milhões da Pêssego Transportes.
Em uma semana, outras duas empresas de transportes de ônibus também da zona leste foram alvo de operações da Polícia Civil. No último dia 2, o Denarc (Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico) cumpriu mandados de busca e apreensão na UPBUS, no Lajeado.
Segundo o delegado Fernando Santiago, responsável pelas investigações, Cara Preta; Décio Gouveia Luiz, 53, o Décio Português; Sílvio Luiz Ferreira, 44, o Cebola; Cláudio Marcos de Almeida, 50, o Django; e Alexandre Salles Brito, 42, o Buiu, todos do PCC, eram acionistas da UPBUS.
O Denarc apurou que Django investiu em nome dele R$ 1,2 milhão em ações na UPBUS. Parentes de Décio Português investiram R$ 618 mil; familiares de Cebola, R$ 247 mil; Buiu, R$ 123 mil e uma parente dele, mais R$ 247 mil.
Fontes policiais disseram à coluna que Cebola, foragido da Justiça, é dono de 56 ônibus na UPBUS. A empresa opera 13 linhas na zona leste e fechou contrato com a Prefeitura por meio de licitação pública, no valor de R$ 574 milhões por ano.
Os acionistas Cara Preta e Django também foram assassinados. O primeiro foi morto a tiros no Tatuapé e o segundo foi encontrado com sinais de enforcamento sob o viaduto da Vila Matilde. Os dois bairros também ficam na zona leste. O sócio Décio Português está recolhido em presídio federal.
Vereador na mira
Na manhã de ontem (9), o Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) cumpriu mandados de busca e apreensão na Transunião, no Itaim Paulista, zona leste. Um diretor da empresa e um ex-gerente de manutenção foram presos. Um dos alvos da operação é o vereador Senival Moura, 56 (PT).
As investigações na Transunião tiveram início após o assassinato de Adauto Soares Jorge, 52, ex-presidente da empresa. Ele era o braço direito de Senival Moura e foi morto a tiros em 4 de março de 2020 em um estacionamento na rua Cônego Antônio Manzi, em Lajeado, zona leste.
Segundo o Deic, o autor dos disparos foi Jair Ramos de Freitas, 51, o Jair Cachorrão. O ex-gerente de manutenção Devanil Soares Nascimento, 46, é acusado de ter atraído Adauto para a morte. Ambos tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça.
Os agentes apuraram que, dias depois da morte de Adauto, Jair Cachorrão assumiu o cargo de diretor da Transunião. Ele foi nomeado, afirmam os policiais, por Leonel Moreira Martins, 51, apontado como atual interlocutor entre a empresa de ônibus e o PCC.
O Deic também pediu a prisão de Senival Moura, mas a Justiça negou. De acordo com a Polícia Civil, Adauto foi morto porque se recusou a repassar dinheiro da Transunião para o PCC. Já o vereador, ainda de acordo com a polícia, não morreu porque quitou a dívida com a facção criminosa.
A Transunião fechou contrato de R$ 100 milhões anuais com a Prefeitura de São Paulo em 2019. O diretor do Deic, delegado Fábio Pinheiro Lopes, disse que a empresa tem 521 ônibus e ao menos 150 são de integrantes do PCC. Senival Moura seria dono de 13 ônibus. O Deic apreendeu 18 coletivos.
A Polícia Civil investiga se o vereador usou a Transunião para fazer lavagem de capitais a mando do PCC e também se utilizou o dinheiro da empresa em campanhas eleitorais.
Tio e sobrinho
Um relatório de investigações do Deic mostra que o assaltante de bancos e de transportadora de valores Ricardo Pereira dos Santos, 36, o Neguinho Cunta, foi um dos primeiros interlocutores do esquema de lavagem de dinheiro entre o PCC e a Transunião, quando ela era ainda uma cooperativa de transportes.
Neguinho Cunta morreu atropelado em outubro de 2012 ao tentar fugir logo após participar do roubo de R$ 14 milhões da Protege de Santo Amaro, na zona sul. Dois comparsas dele morreram em troca de tiros com policiais militares.
Anderson dos Santos Martins, o Dinho, uma das vítimas encontradas morta no porta-malas de um veículo em Embu das Artes, era sobrinho de Neguinho Cunta. O Deic agora quer saber se os mesmos integrantes do PCC envolvidos com a Pêssego Transportes também têm participação na Transunião.
Outro lado
Procurado pela coluna, o vereador Senival Moura disse que não tem envolvimento com os crimes, é também vítima e que está à disposição da Justiça. O advogado Anderson Minichillo, defensor de Jair Cachorrão, afirmou que seu cliente é inocente da acusação de homicídio e que não foi reconhecido por nenhuma testemunha.
A Prefeitura de São Paulo comunicou em nota que ainda não foi informada oficialmente sobre o teor das investigações na Transunião e na UPBUS e acrescentou que irá acompanhar o caso e colaborar com a polícia em tudo que for solicitada.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados dos integrantes do PCC apontados como acionistas da UPBUS nem com as defesas de Devanil Soares Nascimento, ex-gerente da Transunião, e de Leonel Moreira Martins. A versão dos defensores será publicada assim que houver um posicionamento.
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