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Preso na Hungria, 'Escobar Brasileiro' cita Lula para evitar extradição
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Em uma espécie de audiência de custódia em Budapeste, na Hungria, onde foi preso na última terça-feira(21), o narcotraficante Sérgio Roberto de Carvalho, 63, o Major Carvalho, disse ter medo de ser julgado no Brasil pelo mesmo tribunal que julgou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Carvalho, chamado na Europa de "Escobar Brasileiro", em referência ao megatraficante colombiano Pablo Escobar, se referia à Justiça Federal de Curitiba, onde responde a processo por tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, e que condenou Lula em dois processos da Operação Lava Jato na primeira instância. As condenações foram depois anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal), que também entendeu que as ações contra o petista não deveriam ser analisadas em Curitiba.
Lula, entretanto, respondeu ao processo na 13ª vara Federal de Curitiba, que era comandada pelo então juiz Sergio Moro. Já o processo contra o Major Carvalho, investigado na Operação Enterprise, deflagrada em novembro de 2020, está tramitando na 14ª Vara Federal de Curitiba e é presidido pelo juiz Marcus Holz.
Major Carvalho alegou ser um preso político. Além de criticar a Justiça Federal do Paraná, ele reclamou que os policiais que o investigaram são os mesmos que comandaram as investigações contra Lula, hoje pré-candidato à Presidência.
"Tenho receio de ser julgado pela Justiça brasileira, da forma por este tribunal que está me acusando, que coincidentemente é o mesmo tribunal e os policiais que investigaram o presidente Lula", disse o Major Carvalho em português com tradução em húngaro.
O delegado federal Sérgio Stinglin, responsável pelas investigações da Operação Enterprise, disse à coluna que a argumentação do Major Carvalho não tem fundamentação.
O policial afirmou que não há qualquer vínculo entre o caso Lula e o do narcotraficante. Ele acrescentou que os policiais que investigaram o major são outros, os procuradores que o denunciaram são outros e o juiz federal que irá julgá-lo também é outro.
Mas, segundo as autoridades europeias, o medo mesmo do Major Carvalho é de ser extraditado e ter de cumprir pena em uma prisão comum no Brasil. A coluna não conseguiu contato com a defesa dele no Brasil.
O criminoso, no entanto, responde a processos por tráfico internacional de drogas na Espanha e em Portugal. No primeiro país, ele foi preso em 2018 com o nome falso de Paul Wouter e acusado de ser dono de 1.780 kg de cocaína apreendidos em um navio.
Porém, pagou fiança de 200 mil euros e saiu livre. Quando soube que o Ministério Público da Espanha iria pedir a condenação dele a 13 anos e 6 meses de prisão, forjou a própria morte. O médico Pedro Martin Matos, de Málaga, assinou o atestado de óbito do Major Carvalho.
Em Portugal, o Major Carvalho conseguiu driblar agentes federais do Brasil e da Polícia Judiciária local em novembro de 2020, e fugiu em avião particular. Ele deixou para trás quase 12 milhões de euros escondidos em uma van estacionada na garagem de um prédio de luxo em Lisboa.
Na Hungria, o "Escobar Brasileiro", ex-policial miltar de Mato Grosso do Sul, não deu muita sorte. Ele estava de bermuda, tomando café no restaurante de um hotel luxuoso em Budapeste, quando policiais o surpreenderam. No quarto dele foram apreendidos diversos passaportes falsos e um pouco mais de 900 mil euros.
Segundo a Polícia Federal, o Major Carvalho chefiava uma grande organização criminosa no Brasil, responsável pelo envio de 45 toneladas de cocaína para a Europa, a partir de 2017. A droga exportada foi avaliada em R$ 2,25 bilhões.
A cocaína era enviada a partir de portos brasileiros, principalmente de Santos (SP) e Paranaguá (PR), e tinha como destino a Espanha, Portugal, Itália, Bélgica, Holanda, Alemanha e França.
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