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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Polícia não tem pista de suspeito de sequestrar mulher que recusou beijo

Karina Bezerra, 26, desapareceu há quatro semanas - Reprodução
Karina Bezerra, 26, desapareceu há quatro semanas Imagem: Reprodução

Josmar Jozino

Colunista do UOL, e Herculano Barreto Filho, do UOL, em São Paulo

21/09/2022 16h38Atualizada em 21/09/2022 16h38

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O desaparecimento de Karina Martins Bezerra completa um mês no próximo domingo (25) e até agora a Polícia Civil de São Paulo não identificou nem tem pista do paradeiro de um homem conhecido apenas como Xenon, acusado de sequestrar e ordenar a morte dela.

Xenon seria um chefe do PCC (Primeiro Comando da Capital) na região do Itaim Paulista, zona leste de São Paulo. Segundo a Polícia Civil, ele sequestrou Karina, que tinha 26 anos, porque ela se recusou em beijá-lo na noite de 14 de agosto deste ano na Adega MD.

A garota foi à cervejaria dirigindo um Chevrolet Onix. Ela estava com duas amigas. A Polícia Civil apurou que, diante da recusa de Karina em beijar Xenon, ela foi sequestrada por ele e levada para um cativeiro no Itaim Paulista.

A vítima teve o carro e o telefone celular roubados. No cativeiro, Karina foi ameaçada de morte. Ela ficou amordaçada e teve os braços e pernas amarrados por integrantes do "tribunal do crime" do PCC. Graças à denúncia anônima, policiais militares prenderam seis pessoas envolvidas no sequestro.

Xenon, o pivô do sequestro, não foi localizado nem identificado. Karina, libertada pelos PMs, foi conduzida ao 50º DP (Itaim Paulista) e narrou os fatos. Os seis presos foram indiciados por roubo e extorsão mediante sequestro, conforme reportagem publicada pelo UOL na terça-feira (20).

Karina ficou isolada dez dias na casa dos pais, no Itaim Paulista. De acordo com a Polícia Civil, a jovem foi sequestrada pela segunda vez em menos de duas semanas e levada para outro cativeiro, na favela de Paraisópolis, onde teria sido submetida a novo julgamento pelo "tribunal do crime".

O pai de Karina prestou queixa de desaparecimento da filha no 50º DP. Ele disse na delegacia que a família e as amigas de Karina não sabiam do paradeiro dela.

O pai da jovem conversou por telefone com a reportagem, mas não quis dar entrevista. Ele demonstrou estar bastante assustado, temoroso e preocupado com a falta de informações sobre a filha. E ressaltou que o carro dela não tinha sido localizado, informação confirmada pela Polícia Civil.

Policiais civis disseram à imprensa que Karina está morta e que o corpo da jovem não foi encontrado. Além do 50º DP, a 5ª Delegacia de Repressão a Roubos a Bancos, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais), também passou a investigar o caso.

Agentes do Deic prenderam no último dia 14, na Vila Curuçá, zona leste, Brendon Macedo Soares, 27, Uelison Martins dos Santos, 33, e Erica Suzane de Souza Pouciano, 19. Com os três, os policiais do Deic disseram ter apreendido drogas.

Brendon foi ouvido em sede policial. No depoimento assinado por ele, ao qual o UOL teve acesso, o preso diz que era disciplina (chefe) do PCC no bairro onde Karina foi sequestrada e admite ter participado do segundo "tribunal do crime", ao qual a jovem foi submetida por integrantes do PCC.

O preso afirma que Karina estava escondida em Taboão da Serra, na Grande São Paulo, onde foi localizada e quis contar a própria versão sobre o primeiro julgamento. Segundo Brendon, Karina foi para o Itaim Paulista e lá acabou sequestrada de novo e levada para a favela de Paraisópolis, na zona sul.

No depoimento, Brendon acrescenta que além de "disciplina", é auditor de drogas do PCC na "quebrada" do Itaim Paulista e, por esses motivos, foi chamado para ir até Paraisópolis, para participar do "tribunal do crime" da facção.

Ele contou ainda que "lá chegando encontrou três integrantes do PCC no barraco. Revelou também que por regra da facção não podiam ficar no imóvel mais de três "irmãos" (batizados na organização). Disse que cumprimentou todos e saiu.

Porém, ressaltou que viu Karina sentada em uma cadeira e que ela não havia sido maltratada nem torturada. Brendon declarou que depois disso entrou no veículo que havia emprestado de sua cunhada e que escoltou o Chevrolet Onix de Karina, dirigido por outro homem, até o Rodoanel.

No depoimento, Brendon não diz exatamente onde o carro de Karina foi deixado nem menciona o nome do motorista que dirigiu o veículo. No termo de interrogatório assinado pelo preso não consta nenhuma pergunta sobre o tal Xenon. Brendon finaliza dizendo desconhecer o paradeiro do corpo de Karina. "Nada mais foi dito nem lhe perguntado".

A família de Brendon conversou com a reportagem e diz que não foi encontrado drogas com ele. Durante a audiência de custódia, Brendon disse à juíza Thaís Fortunato Bim, da Vara de Plantão do Fórum da Barra Funda, que foi agredido por policiais com tapas e socos no rosto, cabeça e costelas.

A magistrada determinou que fossem oficiados a corregedoria específica, um juiz-corregedor, o Ministério Público e o Instituto Médico Legal, onde Brendon foi submetido a exame de delito, para saber se procedem ou não as alegações de agressão narradas por ele.

Durante a audiência de custódia, realizada no dia 15 de setembro, a juíza observou que Brendon é duplamente reincidente e Uelison tem uma reincidência. Os dois detidos e Erica tiveram a prisão em flagrante convertida em preventiva.

*Colaborou Herculano Barreto Filho, do UOL, em São Paulo