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Josmar Jozino

REPORTAGEM

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Traficante com pena de 104 anos integrava a maior base do PCC em Portugal

Flávio Alves Oliveira, do PCC, preso em Portugal - Polícia Judiciária de Portugal
Flávio Alves Oliveira, do PCC, preso em Portugal Imagem: Polícia Judiciária de Portugal

Colunista do UOL

19/11/2022 04h00

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Mesmo com extensa ficha criminal, Flávio Alves de Oliveira, 42, condenado a 104 anos por latrocínio (roubo seguido de morte) e flagrado com 300 kg de cocaína em Santos, deixou a prisão em São Paulo pela porta da frente.

Livre, ele viajou para o exterior no mês passado com a missão de ajudar outros comparsas narcotraficantes do Brasil e da Sérvia a montar em Portugal a principal base do PCC (Primeiro Comando da Capital) na Europa.

Apontado pela polícia como integrante do PCC e criminoso de altíssima periculosidade, Oliveira foi acusado com outros cinco réus de roubar e matar três pessoas da mesma família em Vargem Grande do Sul, em 28 de janeiro de 2006.

O bando invadiu a residência de José de Carvalho Manzano, na madrugada, e roubou produtos eletrônicos, telefones celulares, R$ 10 mil em dinheiro e um veículo Mitsubishi.

Manzano e os filhos de 22 anos, 14 anos e 9 anos foram amarrados, colocados em um carro e levados para um matagal no quilômetro 183 da rodovia SP-344, em Mogi Guaçu, e baleados na cabeça.

Apenas a criança sobreviveu. O crime foi planejado por três presos da Penitenciária de Casa Branca (SP). Os prisioneiros tinham informações privilegiadas sobre a rotina dos Manzano.

Em 14 de março de 2008, a juíza Maria Helena Steffen Toniolo, da Vara Criminal de Vargem Grande do Sul, condenou os réus em primeira instância. Oliveira recebeu a maior pena: 104 anos.

A defesa dele recorreu da sentença e a pena foi reduzida para 30 anos. Em 17 de abril de 2020, o preso foi beneficiado com o regime aberto. Mas, quatro meses depois, em 21 de agosto de 2020, acabou flagrado por policiais civis com 300 kg de cocaína na garagem de casa, no bairro do Macuco, em Santos.

Oliveira não ficou muito tempo preso. O então juiz auxiliar da 3ª Vara Criminal de Santos Leonardo de Mello Gonçalves absolveu o réu em 5 de fevereiro de 2021 por entender que a prova colhida contra ele não era suficiente para condená-lo e deixava dúvidas quanto à autoria do delito.

Preso em Lisboa com mafiosos sérvios

O criminoso foi solto três dias depois. No mês passado, precisamente no dia 15, ele viajou para Portugal e se juntou a outro brasileiro, Wanderson Machado de Oliveira, 34, o Pen Drive, também faccionado do PCC e investigado em Santos por lavagem de dinheiro e tráfico de drogas.

Segundo a Polícia Judiciária, ambos se uniram a um grupo de sérvios integrantes da máfia dos balcãs e montaram uma logística para receber toneladas de cocaína procedentes do Brasil em portos portugueses.

O último carregamento chegou ao Porto de Sines em 11 de outubro deste ano. Eram 240 kg avaliados em 9,6 milhões de euros. O brasileiro Marcos Miranda e o português Francisco Martins foram encarregados de buscar a droga, escondida em uma carga de café.

Marcos deixou a cocaína em um veículo estacionado em um parque em Montijo. Francisco viu de apanhar a droga, mas não encontrou. Os dois não sabiam que os 240 kg haviam sido apreendidos pelas autoridades tributária e aduaneira de Portugal.

O PCC e a máfia dos bálcãs pensaram que Marcos e Francisco tinham desviado a droga do grupo. Ambos foram sequestrados por Wanderson e Oliveira e espancados pelos sérvios Uros Piperski, Alexsandar Stpojkovic e Nenad Kovacevik.

A Polícia Judiciária de Portugal seguia os passos de Marcos e Francisco desde a apreensão da droga e conseguiu libertá-los. Os dois não foram presos na ocasião, mas os agentes não deixaram de monitorá-los. Ambos acabaram detidos no último dia 11.

Já os três sérvios e os outros dois brasileiros foram presos em 16 de outubro. Oliveira havia chegado a Lisboa um dia antes para ajudar o comparsa Wanderson a fortalecer a base do PCC em terras lusitanas. Ele tinha tirado o passaporte no mês anterior.

Wanderson viajou para Portugal em ao menos três oportunidades. A primeira foi em 17 de junho de 2021, a segunda em 30 de janeiro deste ano e a última em 13 de março. Ele deveria retornar ao Brasil em 13 de maio deste ano.

Em 4 de setembro de 2017, Wanderson foi preso pela Polícia Federal no Brasil, juntamente com narcotraficantes sérvios, durante a deflagração da "Operação Brabo". De acordo com a PF, o brasileiro usava a logística do PCC para enviar drogas à Europa.

Os agentes o acusaram de exportar 199 kg de cocaína para a Espanha em 13 de março daquele ano. Dois meses depois, ele tentou enviar mais 332 kg, mas a droga foi apreendida, conforme divulgou esta coluna na quinta-feira (17).

Em 18 de março de 2019, a 9ª Vara Federal de Santos condenou 26 réus envolvidos na "Operação brabo", inclusive um grupo de sérvios. Wanderson acabou absolvido.